quinta-feira, 11 de junho de 2009


Fundo Cristão: o Bolsa-Família do Jequitinhonha
Em 30 anos, os pobres do Vale tiveram uma rede de proteção social
O Bolsa-Família do Governo Lula teve um precedente no Vale. Em mais de 30 anos, os pobres da região tiveram a sua proteção social, seu guarda-sol solidário. O Fundo Cristão para Crianças, entidade conhecida e reconhecida mundialmente, de origem norte-americana, se instalou no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas. Atua também na periferia de BH, e Fortaleza, no Ceará, além das regiões do sertão de Crato e Sobral.
Com um sistema de apadrinhamento, geralmente da classe média dos EUA ou países da Europa, o Fundo Critão apoiou a implantação de instituições de assistência social para atuar junto às crianças e famílias de baixa renda das comunidades rurais e periferias das pequenas cidades.
Começou em 79, em Virgem da Lapa, com a APRISCO; depois veio a ABITA, de Coronel Murta, onde tive a honra de trabalhar, em 82. A Amai, de Francisco Badaró; a AMPLIAR, de Minas Novas; e a APLAMT, de Turmalina, tinham nascido em 81. Em 82, uma equipe de técnicos – nesta eu também estava -, junto com as comunidades de três cidades, fundamos a ARAI, em Berilo; a ACHANTI, em Chapada do Norte; e a ASSOCIAR, em Araçuaí.
Era difícil acreditar que os estrangeiros queriam ajudar pobres no Brasil. Para fichar crianças tínhamos que usar muito argumento para convencer as famílias. Corria a conversa que os meninos inscritos no projeto seriam enviados para o estrangeiro para fazer sabão deles. Alguns pais caíam na capoeira, escondendo as crianças. O trabalho sério e comprometido do Fundo Cristão, das instituições, das equipes técnicas locais e o apoio de lideranças das cidades foram quebrando a desconfiança e se transformando no maior programa social que o Vale já conheceu.
De lá pra cá, muitas outras instituições sociais, com o apoio do Fundo Cristão, foram se estruturando em diversas cidades do Vale.

Hoje, são 21 entidades em cidades do Médio e Alto Jequitinhonha apoiadas pelo Fundo Cristão: Araçuaí, Berilo, Carbonita, Chapada do Norte, Comercinho, Coronel Murta, Datas, Diamantina, Felício dos Santos, Francisco Badaró, Itaobim, Jenipapo de Minas, Jequitinhonha, Medina, Minas Novas, Padre Paraíso, São Gonçalo do Rio Preto, Serro, Turmalina, Veredinha e Virgem da Lapa.
Não tenho dados oficiais, mas creio que são cerca de 30 mil crianças apadrinhadas, em quase 20 mil famílias de baixa renda.
Este espaço é muito curto para relacionar as ações e os impactos causados pelos projetos de múltiplas frentes. Mas, ouso apontar algumas: ajuda financeira e material às famílias, construção de casas, apoio à agriculutra familiar, produção e geração de renda, barraginhas, captação de água de chuva, abastecimento de água, educação ambiental, acompanhamento e reforço escolar, redução da mortalidade infantil e materna, valorização da cultura popular, direitos das crianças e adolescentes com a defesa do ECA – Estatuto de Criança e Adolescente, formação de lideranças/animadores comunitários, defesa da famílias e da vida comunitária, da economia solidária, promoção da cidadania ..

Uff! Tem muita coisa. Necessita de uma tese de mestrado, doutorado, monografia de conclusão de curso acadêmico, ou simplesmente, um livro de registro para ficar na História, não perder no tempo.
Mesmo que ninguém escreva sobre o Bolsa-Família do Vale, o povo pobre da região que foi e é beneficiário dele, já registrou a transformação de suas vidas.
Sem inaugurações, barulho ou comícios político-eleitoreiros, uma placa foi fincada e gravada no coração dos pobres do Vale: Fundo Cristão!

Obrigado, Fundo Cristão para Crianças!
Muito já foi feito, mas ainda há muito que fazer.
As entidades conveniadas com o Fundo Cristão passam por dificuldades para manter o ritmo de tantas ações. A crise financeira mundial atinge a todos. Com certeza, muitos padrinhos estrangeiros deixarão de contribuir devido a falências, desemprego ou outra conseqüência perversa da crise. O povo do Vale deve apoiar e respaldar as entidades das suas cidades. A captação de recursos em outras fontes é de fundamental importância para a continuidade dos diversos projetos e ações atuais, como para novas iniciativas.
Creio que os governos federal, estadual e municipal deveriam respaldar estas instituições, com recursos financeiros e materiais, sem querer encabrestá-las. Apoio de forma republicana, respeitando sua autonomia.

As empresas aqui instaladas como Cemig, Copasa, Suzano Celulose, Acesita, Suzano, Viação Rio Doce, Gontijo, Banco do Brasil, Caixa, BNB, Mineradoras e muitas outras, deveriam destinar seus recursos de responsabilide social para projetos destas entidades apoiadas pelo Fundo Cristão.
Mão à obra, onhas do Jequi!
“Se muito vale o já feito, mais vale o que será”.
Confesso que a emoção tomou conta de mim ao escrever este texto. E chorei. Parei e recomecei. Minha filha Mel, de 4 anos, não entendeu o choro. Chorou comigo, perguntando porque eu estava triste. Tentei explicar que estava chorando de alegria, reconhecimento, de satisfação, de esperança, por também ter participado desta obra social.
Um dia, ela entenderá.

Um comentário:

Fazer a diferença é... disse...

Querido Albano,

Foi com muita alegria que li seu depoimento, sou Patrícia Bragança e atualmente estou responsável pela implantação do Centro de Documentação e Memória do Fundo Cristão para Crianças. Com toda certeza essa história deve ser registrada e divulgada amplamente. Em 2006 iniciamos uma pesquisa histórica sobre nossa organização, mas acreditamos que ainda precisamos rechea-la com informações vindas diretamente do campo, onde tudo aconteceu e acontece. No mais, estamos batalhando para que essa história tão bonita não fique apenas na memória de poucas pessoas, mas que seja um marco histórico na memoria social do nosso país.

Abraços,
Patrícia Bragança
Centro de Documentação e Memória do Fundo Cristão
para Crianças - memoria@fundocristao.org.br

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