terça-feira, 30 de junho de 2009

Mulheres se reúnem e se organizam
“Quero mais que flores, chega de violência!”
Por Tania Pulier, comunicadora popular da ASA/UGT Cáritas Diocesana de Araçuaí
A violência contra a mulher é uma preocupação das entidades sociais reunidas na Articulação no Semiárido - ASA Minas, entre elas a Cáritas Diocesana de Araçuaí, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas. Em seu trabalho junto às comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha, bem como junto a grupos urbanos, as agentes escutam os desabafos das mulheres vítimas de agressão física, assédio e abuso sexual, retenção dos bens materiais, violência moral e psicológica.

Com o objetivo de articular a luta das mulheres contra a violência e pelo reconhecimento de seus direitos e dignidade, foi formado, em maio, o Grupo de Trabalho de mulheres do Vale do Jequitinhonha. O grupo é composto por nove representantes das três microrregiões – Baixo, Médio e Alto Jequitinhonha.
É atribuição do Grupo de Trabalho - GT fazer a discussão de gênero – relações igualitárias entre homens e mulheres – com as bases, as comunidades rurais principalmente, e a partir daí propor ações, projetos e reivindicar políticas públicas adequadas às mulheres, além do cumprimento das leis já existentes.
É o caso da Lei Maria da Penha, em vigor desde setembro de 2006, que possibilitou que agressores de mulheres no âmbito doméstico ou familiar sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada. “Para mim é importante saber que eu vou continuar junto com o grupo aqui do Vale, desenvolvendo aquilo que a gente procura melhorar, que é a condição de vida da mulher”, afirma Maria Aparecida Alves, do Assentamento Franco Duarte, em Jequitinhonha, uma das integrantes do GT.
A criação do GT foi fruto do I Encontro de Mulheres do Vale do Jequitinhonha, promovido pela Cáritas e entidades parceiras, que reuniu 40 mulheres de vários municípios do Vale do Jequitinhonha, nos dias 11 e 12 de maio, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçuaí, para discutir a violência sexista.
O lema “Quero mais que flores; chega de violência!” inspirou as partilhas e reflexões, orientadas pela militante da Marcha Mundial das Mulheres, Débora del Guerra.
“Corpo objeto, humilhação, corpo marcado por agressão física, psicológica e moral, medo de agir e ser discriminada, medo da morte, rosto triste, abandono dos companheiros, sexo forçado, xingamentos, submissão, assassinato de mulheres, piadas machistas, estupro, liderança que violenta a mulher, ciúme que leva até ao cárcere privado, estupro dentro do casamento, coração machucado, escravizada, abuso sexual, entrega ao álcool, impunidade, guerra, dúvida – palavra do homem tem mais valor, não deixar participar do trabalho voluntário, repressão sexual”: todas essas foram palavras chave apresentadas pelos grupos de partilha a partir dos relatos de situações vivenciadas pelas participantes. A partir desses relatos, foi realizado um debate sobre as várias causas da violência contra a mulher.
Organização das mulheres
Para Débora del Guerra, a base da violência sexista é a desigualdade.

“A estrutura da sociedade, o fato dos homens terem mais poder na sociedade do que as mulheres, deles dominarem e serem educados para isso, cria uma situação permissiva para a violência contra a mulher”, afirma.
Esse poder tem toda relação com a propriedade privada no sistema capitalista.
A assessora acredita que a opressão contra a mulher nesse sistema tem base material. É preciso, portanto, mudar a estrutura social para mudar a vida das mulheres, mas também mudar a vida das mulheres para mudar a estrutura social.
Ela acredita, assim, que ações que libertem as mulheres e criem solidariedade entre elas, como a criação de grupos de formação e cooperativas podem contribuir para uma transformação social que beneficiaria não apenas as mulheres, mas também os próprios homens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário