sexta-feira, 7 de agosto de 2009

“HÁ QUE SE CUIDAR DA VIDA, HÁ QUE SE CUIDAR DO MUNDO”

Almenara - Baixo Jequitinhonha
NOSSO PATRIMÔNIO E O LIXO CULTURAL
“HÁ QUE SE CUIDAR DA VIDA, HÁ QUE SE CUIDAR DO MUNDO”
Hélio Otoni
É cada vez mais necessária a pressão da sociedade no sentido de preservar o patrimônio histórico, cultura e ambiental.
Toda cidade tem uma história, que se inicia com a sua fundação e evolui através do tempo. Há muitas formas de contá-la. Ela está presente na cultura de seu povo, nos ciclos de seu desenvolvimento econômico e social, nas obras ilustres, e também nas edificações, memória visível da evolução urbana.
Através do patrimônio que nos é deixado pelas gerações anteriores podemos ver a relação entre o Homem, a estrutura social e o meio ambiente. Essas estruturas são uma maneira de eternizar as obras do Homem.
Quanto mais conhecimentos o Homem obtiver acerca do seu passado, acerca da maneira como evoluiu, mais facilmente pode resolver os problemas que lhe surgem no presente.
Há a necessidade de se preservar cada resquício da historia e da cultura de nosso povo, sob pena de desaparecimento das formas de ser e de viver daqueles que por aqui passaram e deixaram para os pósteros testemunhos materiais grandiloqüentes, que bravamente ainda sobrevivem ao passar dos séculos.
Não foi o caso da belíssima residência do Sr. Deraldo Guimarães, derrubada ante os olhares atônitos da população para a construção de uma agência do Banco do Brasil. Não existia uma política de preservação no passado e mal sabíamos naquela época que partindo do raciocínio de que o bem tem valor para a comunidade, os titulares deste interesse somos nós os indivíduos que compomos a coletividade.
A sociedade precisa perceber e valorizar o que tem e isso não é um processo que acontece da noite para o dia, vai sendo conquistado aos poucos até se criar uma consciência de preservação, incluindo a educação neste processo, com o ensino em sala de aula a partir de nossas raízes.
Tomemos como exemplo Jequitinhonha e Pedra Azul, que mantêm intactas construções de séculos como prova de sua capacidade de preservar a sua história e a sua beleza para os seus filhos. Almenara ainda tem construções de valor cultural imensurável como o Casarão da Praça Hélio Rocha Guimarães, já totalmente restaurado, o Castelinho da Praça Benicio de Almeida, o próprio Mercado Municipal que teve algumas descaracterizações e merece uma atenção melhor de nossas autoridades, a nossa praia fluvial que já foi a mais bela e hoje se tornou em depósito de lixo e entulho, ponto de venda de drogas e cheia de construções clandestinas, sob o olhar complacente do Executivo.
O nosso município já tem um levantamento dos bens culturais de interesse de proteção realizado pelo Centro de Apoio às Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente Patrimônio Cultural e Urbanismo do Estado de Minas Gerais a pedido da Promotoria de Justiça da Comarca de Almenara. O poder executivo tem a obrigação de olhar com mais carinho para isso.
O que vemos em nossa cidade é um total desrespeito a esses patrimônios, tanto o histórico, cultural como o ambiental. Resta-nos, então, nos organizarmos e juntamente com o Poder Público achar uma forma de dar um revés nessa situação, visando reforçar para a nossa população a importância do salvamento e sobrevivência de nossa identidade.
É meta incentivar modos de atuação junto à comunidade, promovendo ações que estimulem o cidadão comum a identificar os bens de patrimônio, resgatando com isso parte de sua história pessoal e a memória coletiva. Identificar sua história e apropriar-se de seu habitat pode gerar uma relação positiva de co-responsabilidade entre o cidadão e o Poder Público no lugar onde se vive, elevando o civismo e a valorização da história da cidade.
Vejam que, no aniversário de nossa cidade, não temos em nenhum momento demonstração de nossas tradições e de nossa cultura e, sim, pasmem, da “importada” axé music. Nas festas do nosso padroeiro São João não vemos nenhuma comemoração e nem demonstração cultural acerca disto. Ao contrário, nas cidades circunvizinhas a data é comemorada e muito.
Há espaço para tudo e para todos, mas é preciso resgatar o nosso folclore popular, a nossa cultura e principalmente as pessoas que forjaram o nosso caráter e personalidade enquanto cidadão, ou seja, os nossos antecedentes esquecidos por todos a não ser para serem nomes de ruas.
Outra forma de agir para a proteção do nosso patrimônio seria através da Ação Civil Pública, este moderno e importante instrumento protetivo que nos permite formular pedido no sentido de que o Poder Público, réu, faça ou deixe de fazer alguma coisa; ou seja condenado a diligenciar para a proteção do bem ou abster-se de conduta que vise à sua destruição ou mutilação, isso independentemente de prévio ato do tombamento.
Só assim conseguiremos preservar o patrimônio cultural do nosso município, e não deixá-lo sendo vítima de baixas em seu conjunto arquitetônico, sob pena de total aniquilação da importância histórica, paisagística e turística de nossa cidade.
A noção do quanto é necessário preservar nossas origens, não apenas através de construções históricas como também dos saberes e fazeres populares, se faz necessário a todos nós, pois nossa cidade não tem memória e nos cabe clareá-la o mais rápido possível antes que ela se vá ao tempo e ao espaço.
***
Este desabafo do Hélio Otoni diz respeito diretamente à cidade de Almenara. Mas a carapuça cabe na cabeça de muitas cidades do Vale do Jequitinhonha. É só observar em sua cidade, à sua volta, no seus bairro, na sua comunidade. É uma questão de olhar, ver, sentir e reagir.

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