segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fé, cura e charlatanismo
"As religiões cresceram entre os humildes porque aqueles que estavam por cima já se julgavam no paraíso". Mário Quintana
Eu fico observando algumas práticas religiosas, principalmente das igrejas pentescostais, que acreditam nos poderes do Espírito como curas milagrosas, profecias, interpretação de línguas e discernimento de espíritos, dentre outros. São as pentecostais as que mais crescem entre as pessoas mais pobres. As mais conhecidas são a Universal, Congregação Cristã, Assembléia de Deus e Deus é Amor. Embora seja um fenômeno ligado às igrejas protestantes na Igreja Católica surgiu o movimento Carismático.
O que mais me intriga são momentos de louvação a Deus nas igrejas, nas praças públicas, e, cada vez mais, nos rádios e TVs, com propagação de curas milagrosas de forma a convencer fiéis a largarem o tratamento de alguma doença, abandonar a orientação médica, o uso dos remédios, a realização de exames e operações cirúrgicas.
O mais intrigante é que as curas anunciadas são sempre de doenças de maior complexidade, que a ciência ainda não dominou totalmente, como câncer. Ou então, de outras de origem "pecaminosa", ligadas ao sexo, como a AIDS.
Isso beira à irresponsabilidade perante vidas.
Na comunidade de Vai Lavando, em Berilo, no Médio Jequitinhonha, os serviços de saúde detectaram um número de doentes mentais acima da média. Há cerca de dois anos, após um culto pentecostal em que várias pessoas declararam ter tido "a revelação do amor e poder de Cristo" houve um abandono geral do uso de remédio das pessoas com sofrimento mental e das consultas de acompanhamento psicológico. A agressividade e os surtos foram a consequência mais visível. O abandono de práticas básicas de higiene foram simplesmente esquecidas. Alguns pararam até mesmo de se alimentarem.
Foi necessário fazer um mutirão com as famílias e equipes saúde, procurando pessoas no mato, errantes pelas estradas, até mesmo fora do município, para a retomada do tratamento de saúde.
Há notícias de famílias que vêm processando igrejas pentecostais por considerá-las responsáveis por morte de seus parentes.
Creio na força da fé para a contribuição da prevenção de doenças como támbém na sua cura. Porém, é preciso ter muito cuidado para não reforçarmos as práticas de charlatanismo e da irresponsabilidade perante as vidas alheias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário