quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Jequitinhonha Urgente - II
Todo ano, mais de 20 mil migrantes pegam a estrada

Em 2.010, quase todos ficarão em casa, na sua roça
“No caso do Médio Vale do Jequitinhonha mineiro, desde os anos 1960 a migração sazonal de trabalhadores rurais para fazendas de cana e de café no território paulista só faz intensificar.
Milhares de jovens e adultos saem de suas cidades em março/abril para retornarem somente em dezembro, trazendo para casa as economias juntadas na lida estafante com a cana nas usinas da área de Ribeirão Preto, principalmente.
No ano de 2003, para se ter uma idéia, os municípios de Berilo, Francisco Badaró, Minas Novas e Chapada do Norte tiveram aproximadamente 45% de suas populações adultas masculinas envolvidas nesse trânsito.
Em Berilo, município com cerca de dez mil habitantes, isso significou que 3.000 homens tomaram o rumo dos canaviais paulistas. Ao longo de décadas, as economias domésticas e municipais no Médio Jequitinhonha tornaram-se dependentes da migração sazonal dos cortadores de cana.
Ao lado das transferências governamentais resultantes de programas como o “Bolsa Família”, os rendimentos dos cortadores de cana do Vale sustentam o comércio de suas localidades de origem e, até mesmo, os pequenos investimentos das famílias camponesas em máquinas, veículos, gado e aquisição de parcelas de terras.
O trabalho sazonal nos canaviais paulistas é uma espécie de válvula de escape que mantém sob controle as tensões no interior das unidades camponesas, garantindo sua reprodução social.
Como sabem os moradores de Araçuaí ou Minas Novas, os jovens que retornam do interior paulista trazem novos hábitos, gostos e objetos de consumo, iniciando “febres” de aspirações materiais entre os adolescentes locais, as quais só encontram satisfação com a integração desses nas correntes de migrações sazonais.
Tudo isso é bem conhecido por demógrafos, antropólogos e economistas, tanto mineiros quanto paulistas, que há anos estudam esse fenômeno no Vale do Jequitinhonha. Mas agora há um desafio urgente.
O acordo entre os usineiros e o governo de São Paulo coloca data terminal para esse trânsito de cortadores de cana que já é parte da paisagem do Vale do Jequitinhonha”.
Texto de Marcos Lobato Martins

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