domingo, 4 de outubro de 2009

Pensando a vida e a morte

Razões e emoções de viver e de morrer
Os suicidas têm razões, e mais ainda emoções, muito fortes para não permanecer vivos. São puxões de contra-vida, pulsões de morte, de aniquilamento que se justificam em atos desesperados para o atentado fatal conta si próprio.
A psicanálise como ciência da análise dos desejos mais ocultos da alma humana,revolve muitas destas causas.
Pode ser perturbador para uma pessoa ou grupos humanos assumir fracassos, perdas em busca de concretização de desejos. Nossa vida é baseada em sucessos, muitas vezes fantasiosos.
A loucura explode neste momento, no campo da vida vivida, sofrida, espremida. Como válvula de escape, como esperança de continuar a viver.
É estarrecedor esta constatação, mas a pulsão da vida é a base da loucura. Só é louco quem quer viver e tem dificuldade em viver, em ser, nas condições que a sociedade impõe, exige. Só é louco quem tem sentimentos profundos. Não existem loucos insensíveis. O louco é um ser sensível, por excelência.
Por isso, o mundo artístico é considerado concessão, espaço profissional da loucura humana. A arte tem sua base na emoção, na visão e expressão de um mundo nem sempre concreto."Não liga pra ele não, é um poeta, vive no mundo da lua", nos dizem a todo momento quando nos metemos a fazer arte.
Até as novelas de televisão já vêm explicando que psicopata não é louco. Pois a psicopatia se baseia na frieza em relação à vida humana, na carência ou ausência de sentimentos em atos ou ações das relações humanas.
Achei fantástico o argumento e conhecimento de um freqüentador de botequim, sem formação acadêmica, me explicando detalhadamente as diferenças entre um louco e um psicopata.
E baixou a sentença que muitos juízes, magistrados, têm receio de adotar: o psicopata é um criminoso em estado permanente. Não pára de praticar crimes. Ele tem razão, sem interferência aparente da emoção, mas os profissionais e vigilantes do judiciário não os escuta, não prestam atenção a estas manifestações.
Processando como um liquidificador, um estômago de avestruz, digerindo: sentimentos pouco cabem na nossa sociedade atual. A não ser para lucrar com eles. Aí pode. Lucro é a mola-mestra da nossa sociedade de consumo, de acúmulo material, patrimonial.
Como disse o psiquiatra alemão/norte-americano, há 50 anos atrás, Eric Fromm: “o TER ocupou o lugar do SER”.
As perdas e ganhos materiais invadiram as relações humanas de tal forma que o mercado é que determina a minha e a sua vida, integralmente. Quem não concordar que vá pra ponte que partiu, a lugar nenhum. Pois todo lugar deve ser domínio do cifrão.
Como já disse um amigo meu, colega de faculdade, dificuldade e conversa afiada, que não conseguiu viver muito tempo, cronologicamente, pois a vida lhe pareceu muito pesada, além das suas forças:
“Ser louco é algo muito normal, ser normal é algo muito louco”.
Quem não conseguir o sucesso que o cifrão determinou, resta-lhe como saída a loucura.
A criação artística mora aí perto deste terreno. Mora ao lado. E o cifrão tenta namorá-la, para controle de seu poder, de sua existência.
A arte escapa, não mata, e escafuncha a montanha da vida.

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