quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Enfermeira analisa serviços de saúde do Vale

Enfermeira do Jequitinhonha analisa serviços de saúde do Vale
Itinga , Médio Jequitinhonha
Representante do Conselho Regional de Enfermagem- COREN-MG em Itinga-MG há mais de vinte anos, a enfermeira Marília Henenina Gusmão Dutra tem 32 anos de profissão. Nascida no município onde representa o Conselho, ela conta como é o trabalho desenvolvido em Itinga e descreve as especificidades da Enfermagem na região. Hoje aposentada, Marília Dutra pretende continuar ligada à profissão, mesmo que seja desenvolvendo ações voluntárias.
Desde quando a senhora é Representante do COREN-MG?
Marília Dutra - Comecei a representar o COREN-MG, em Itinga, em fevereiro de 1988. Antes disso, eu era delegada do Conselho. Como delegada, tinha praticamente as mesmas funções.
Qual é a sua formação?
Marília Dutra - Fiz o curso de Enfermagem na Universidade Federal de Minas Gerais. Depois, fiz habilitação em Saúde Pública. Em 1986, fiz um concurso em Itinga e fui trabalhar no centro de saúde pelo Estado. Já participei de muitos seminários. Fiz curso de capacitação no Programa de Saúde da Família (PSF) em Diamantina depois que me aposentei. Fui enfermeira do PSF em Itinga por dois anos.

Como foi escolhida para representar o Conselho em Itinga?
Marília Dutra - Como já trabalhava na região, sugeriram que me tornasse Representante.
Fui bem acolhida porque tenho muito contato com a comunidade de Itinga.
Qual é o número de habitantes de Itinga e como é a estrutura do setor de saúde para
atender a população?
Marília Dutra - Atualmente, são 14.595 habitantes. Há um hospital que atende casos menos graves (soro e observação). Os casos mais graves, que requerem atenção mais especial, são encaminhados para outras localidades, como Itaobim, Araçuaí e Teófilo Otoni. Há também uma unidade móvel, na qual o médico atende na zona rural.
Os atendimentos são agendados e um profissional de Enfermagem acompanha o médico.
Como Itinga é dividida ao meio pelo Rio Jequitinhonha, o centro de saúde ficava em um nível mais baixo e foi inundado duas vezes. E eu estava lá, tentando salvar o material do centro de saúde.
Há uns cinco anos, foi construída uma ponte para atravessarmos o rio. Antes, atravessávamos em um barco de madeira com remo. Quando trabalhei no PSF, atravessava o rio umas quatro vezes ao dia dessa maneira. Há um centro de saúde sede, que vai ser unidade básica. Haverá atendimento médico e vacinação, atendimento à mulher e à criança. E outra unidade básica no bairro Porto Alegre (do outro lado do rio) e um Posto de Saúde no Taquaral, distrito de Itinga, a 14 km.
No total, há seis enfermeiros e 19 técnicos ou auxiliares de Enfermagem. O número de enfermeiros está até razoável, mas o dos outros profissionais está insuficiente.
Há também 27 agentes de saúde que trabalham com as comunidades pelo PSF. Visitam as famílias e fazem levantamento de problemas e marcação de consultas, por exemplo. Eles são orientados por enfermeiros.
Quais são as principais vantagens e diferenciais do serviço de Enfermagem na região?
Marília Dutra - Um ponto positivo é a habilitação de todos os profissionais. Eles se esforçam
para passar de auxiliar para técnico de Enfermagem, por exemplo. Apesar de técnicos
e auxiliares ganharem em torno de um salário mínimo, atendem com amor. Mas não
têm incentivo financeiro.
E quais são as dificuldades mais enfrentadas?
Como elas poderiam ser resolvidas?
Marília Dutra - Pelo que percebi, a rotatividade de profissionais, médicos e enfermeiros,
é uma das dificuldades. Quando o profissional está engajando no serviço, acaba indo
embora por ter recebido propostas mais vantajosas e há, então, uma quebra no trabalho
realizado.
A rotatividade é grande. Acham outro emprego melhor e vão embora. O salário como PSF é razoável. Da região, é até um dos mais altos, R$ 2.800,00. A rotatividade de médicos é maior. Isso complica o trabalho em equipe. Outro problema é a falta de entrosamento entre as equipes, como do hospital com a saúde pública.
Um serviço depende do outro, é continuidade do outro. Também há poucos funcionários para a demanda existente.
No hospital, apesar de a demanda não ser muita, seria importante haver enfermeiro 24 horas por dia e no fim de semana. Além dessas dificuldades, os profissionais não estão tendo capacitação e reciclagem. São poucos profissionais. É muito o serviço. Não sobra tempo para isso.
Em todos esses anos de representação, quais foram as atividades de maior destaque
até hoje?
Marília Dutra - Destaco o fato de estar sempre em contato com a comunidade de Enfermagem.
Eu sou um apoio para eles, para orientá-los quanto ao que precisarem. Como humildade é importante, quando não sei responder precisamente sobre algum assunto, consulto o COREN-MG.
O que mais marcou a senhora na profissão?
Marília Dutra - Conseguimos criar o Centro Formador de Recursos Humanos para a Saúde, que é uma extensão da Escola de Saúde Pública. Meu sonho era habilitar profissionais.
Para mim, foi muito importante em minha carreira. Fui professora e coordenadora do curso. Habilitamos profissionais que estão hoje no mercado. Ofereci para ser coordenadora técnica de graça. Em onze meses, foram habilitados 30 funcionários. A intenção era habilitar quem já trabalhava na área.
Que área da Enfermagem mais a atrai?
Marília Dutra - Saúde pública me atrai mais. A prevenção é base de tudo.
Quais são seus próximos planos profissionais?
Marília Dutra - Eu até tinha pensado em voltar à atividade. Mas prefiro dar oportunidade para quem está entrando no mercado, pois aumentou bastante o número de escolas da região. Pretendo ajudar como voluntária.
Quais são as principais características que um Representante do COREN-MG deve ter?
Marília Dutra - O mais importante é que o Representante tem que ter compromisso com a comunidade e com a profissão. É preciso trabalhar com amor e divulgar o crescimento da classe. Ainda mais no interior que é distante da sede do Conselho.
Fonte: Jornal do COREN-MG, agosto/setembro de 2.009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário