quinta-feira, 4 de março de 2010

Minas, são muitas, por Rudá Ricci

MINAS, SÃO MUITAS
Rudá Ricci
1. Minas é nordeste e sudeste
A frase é de Guimarães Rosa: "Minas, são muitas. Porém, poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais." Os mineiros gostam muito de repetir, de tempos em tempos, esta constatação. Como se fosse um mantra, um lembrete para incautos.
Uma porção mineira das mais ricas culturalmente, que alguns afirmam que dali nasce o real espírito mineiro, pertence ao semi-árido brasileiro. Esta região foi delimitada pela EMBRAPA em 1991 e é marcada pela caatinga. Embora 86% do semi-árido brasileiro estejam no nordeste, 11% dele estão em Minas Gerais. Ali o tempo tem outro ritmo e, como no nordeste, as populações são fortes, sofridas e festivas. Montes Claros, Monte Azul, Gameleiras, Mamonas, São Francisco, São Romão, Bocaiúva, Januária, São João das Missões, Lontra. São nomes que raramente o centro-sul do país se recorda ou mesmo tenha conhecimento quando pensa nas montanhas de Minas. É uma porção nordestina do sudeste do país, rodeada pelos mercados centrais que vendem variações da farinha de mandioca, carne de sereno e famosas cachaças. O sotaque é nordestino e a pele é curtida pelo sol. Há movimentos culturais desconhecidos até mesmo do grande público mineiro, como o movimento catrumano, que valoriza os geraes (o outro pólo do Estado, aquele não tão popular como o das minas).
Mas existe, ainda, a “Minas Profunda” do Vale do Jequitinhonha, de Turmalina, Leme do Prado, José Gonçalves de Minas, Cristália, Botumirim, Grão Mogol e Berilo. Embora no outro extremo geográfico onde está localizada a mística São Tomé das Letras, sobressaem – assim como lá - as paisagens do realismo fantástico de Juan Rulfo. México e Brasil parecem se unir por ali. Um olhar atento descobre no artesanato local, das flores de Santa Rita às esculturas em barro, ou até mesmo nas colagens, um toque de Frida Kahlo. É desta região que nasceram vários retratos elaborados por Guimarães Rosa. Como o retrato que faz em Sagarana:

“E abria os olhos, de vez em quando, para os currais, de todos os tamanhos, em frente ao casarão da fazenda. Dois ou três deles mexiam, de tanto boi. Alta, sobre a cordilheira de cacundas sinuosas, oscilava a mastreação de chifres. E comprimiam-se os flancos dos mestiços de todas as meias-raças plebéias dos campos gerais, do Urucuia, dos tombadores do Rio Verde, das reservas baianas, das pradarias de Goiás, das estepes do Jequitinhonha, dos pastos soltos do sertão sem fim.”
O olhar está quase sempre colado ao ritmo da paisagem que se move lentamente. Este ritmo é o que faz a política desta região ser outra. Ser mística, lenta, da prosa, dos valores comprovados. O Jequitinhonha lembra aquela parábola que diz que se conhece uma pessoa somente depois de comer um quilo de sal juntos, aos bocadinhos, algumas gramas por dia.
A liderança petista de Patrus Ananias nasce nesta parte norte de Minas Gerais. A aparente timidez e olhar reflexivo são filhos daquele tempo lento. São dali, também, algumas lideranças alimentadas por Aécio Neves, várias muito próximas do perfil de Patrus, outras mais próximas do estilo mais coronelístico dos poderosos da região.
Mas há a outra Minas Gerais, do centro-sul. Que também se distingue na topografia, na cultura e no modo de fazer política.
Leia o restante do artigo do cientista político Rudá Ricci aqui AQUI

Nenhum comentário:

Postar um comentário