sábado, 19 de junho de 2010

O imaginário forjado sobre o Vale

Vale do Jequitinhonha:
Um Vale ou uma Marca? Pobreza, sem dúvidas, este é um lugar comum quando o assunto tem por tema o Vale do Rio Jequitinhonha.

Não é difícil assistir, ler ou ouvir notícias relacionadas ao Jequitinhonha que não trazem consigo as adjetivações: “uma das regiões mais pobres do Brasil”, “O Vale da Miséria”, “O Vale dos Esquecidos”...

Que significados afloram no bojo dessas expressões, no que se revelam e que sentidos ou objetivos as permeiam?

Talvez, fique mais claro quando nos remetemos às inúmeras séries de reportagens da imprensa brasileira ao se aventurarem nos meandros do Jequitinhonha. A pobreza se torna um pano de fundo, bem sedimentado, e reflete a pretensão de uma já sedentarizada imagem paupérrima projetada e forjada no imaginário sobre o Vale do Jequitinhonha.

A deformação da realidade “do povo que mora no Vale”, é este, pois, o papel que exerce a imprensa brasileira, e não somente ela.

Nesta esteira, também usurpa daquilo a que já poderíamos chamar de MARCA Jequitinhonha, o discurso político, mormente, porque mais uma vez o capital simbólico do nome Jequitinhonha é apropriado, com instrumentalidade e como válvula de escape, para comaltar a fala e programas eleitorais dos diversos “atores” políticos; e aí se apropriam do Jequitinhonha para blindar a infalibilidade de suas cartas de boas intenções para com a mudança e o espírito de preocupação com as discrepâncias da espacialidade brasileira.

Ainda que pese a inexorabilidade dos indicadores sócio-econômicos do Jequitinhonha, é repudiável o pragmatismo da imprensa, da política e do próprio governo, que concebem o Jequitinhonha como o lugar onde as pessoas vivem em choupanas, sofrem com a esquistossomose ou onde é inexistente qualquer prestação civilizatória.

Todavia, se é que esta pobreza existe e se é medida em termos de vidas marginalizáveis, guetizadas, estereotipadas e esgotadas numa massa recalcada em pleno sudeste brasileiro, é certo que não é restrita aos municípios do Jequitinhonha, mas se estende a todo país e inclusive convivendo lado a lado com as mais ricas áreas, tudo porque apenas atualizamos hoje o fio condutor da historia excludente brasileira.

Assumir uma postura séria e responsável frente ao Jequitinhonha, ao invés de tomá-lo como marca para abstrair a dignidade da Vida do Vale, é o que se espera e cobra como condição de possibilidade para o “igual respeito e consideração” por todos.
Publicado no http://www.itamigos.blogspot.com/

Pedro Afonso é de Itamarandiba, no Alto Jequitinhonha, responsável pelo Blog Itamigos, Amigos de Itamarandiba.

2 comentários:

Téo Garrocho disse...

Nunca enxerguei o Vale do Jequitinhonha como " O Vale da Miséria". Tenho plena convicção que ali está vivo o maior celeiro de cultura de Minas Gerais. Para que ocorram mudanças, e vou morrer batendo na tecla, o povo do Vale do Jequi e Mucuri tem que ser oposição cada minuto, cada segundo, de todo esse continuísmo da política mineira. Oposição é oposição, não tem essa de unir com os mesmos de sempre e o povo continuar na miséria.Parabéns Pedro Afonso e Blog do amigo Banu.

Letícia Simões disse...

Acho que esse 'estereotipo'' do Vale do Jequitinhonha já está 'saturado', quem conhece essa região sabe o quão valioso, o quão importante ela é , a riqueza cultural e HUMANA que se tem, é de uma valor inestimável. É chato ver que todas as notícias, que todos os fatos relacionados ao vale sempre se remetem a pobreza, a tristeza. Logicamente essas situações são encontradas em todos os locais, mas há um diferencial no Vale, o povo apesar de todas as dificuldades enfrentadas é de um simpatia, de uma alegria invejável! Enfim, pra mim ter laços familiares nessa localidade é um orgulho, sempre falo, exibo sobre as coisas boas dessa região, e uma coisa é fato: Quem se dispõe a olhar o vale com outros olhos não se arrepende, se apaixona! :)

Postar um comentário