sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Natal nasce dentro de nós!

O Natal nasce dentro de nós!
Petrônio Sousa Gonçalves

Olavo Romano é uma das grandes personagens da cultura popular do nosso
Estado. Pesquisador e folclorista, tem como hábito sair pelo interior de
Minas garimpando as maravilhas perdidas do nosso povo, os versos esquecidos,
o manancial verterdor de toda mineirice mineral da brasilidade.

Passava a Semana Santa pelo antigo Caminho do Ouro, chegando até a pequena
São Gonçalo do Rio das Pedras, rio por onde escoou o diamante da nossa
história. Bem-aventurado, conheceu a casa de Dona Geralda, onde havia um
lindo presépio montado em plena Semana Santa. Esp antou-se com o fato pois,
pela tradição, os presépios ficam montados até o Dia de Reis - 6 de janeiro
- e depois são recolhidos. Mas, como tudo que é diferente encanta, Olavo
está encantado até hoje.

Dona Geralda explicava ao Olavo o porquê da exposição temporã do presépio.
Com simplicidade crística contava que estava atendendo ao pedido de uma
freira que passara por ali antes e, maravilhada com o presépio da casa de
Dona Geralda, pediu a ela que o mantivesse exposto até julho, pois ela iria
trazer seus sobrinhos de São Paulo para conhecer aquela maravilha guardada
pelas serras de Minas.

O presépio começou a ser montado por Dona Geralda no cantinho do quarto
dela. Como ficou muito bonito, ela foi recebendo outros agrados para o
Menino Jesus e ali colocando as oferendas. Um, trazia um ovo de inhambu;
outro, uma barba-de-pau, uma raiz em forma de cruz e ali ela foi
intuitivamen te ornamentado, construindo uma beleza de presépio. Com o passar
do tempo, o presépio foi crescendo e tomou a metade do quarto dela. Olavo,
vendo aquilo, comentou:

- Dona Geralda, se nesse ano o presépio ocupou a metade do quarto da
Senhora, ano que vem ele vai ocupar o quarto inteiro!...

Ela respondeu:

- É meu filho, ano que vem vou ter que mudar do meu quarto!

Depois de um silêncio reverencial, Olavo Romano voltou à Dona Geralda:

- Dona Geralda, o que que a senhora pensa em colocar mais aqui no presépio
no ano que vem?

- Ah, tem umas luzinhas que piscam, eu queria colocar umas aqui no teto!

- Então a Senhora pensa em colocar umas luzinhas aqui em cima como estrelas
e fazer um céu?!

Dona Geralda se espantou, e com um semblante materno virou-se e falou:

- Céu!? Quê que é isso meu filho, Deus me livre; céu aqui, só o
firmamento...

O presépio de Dona Geralda foi construído e movido pelo mesmo espírito que
São Francisco de Assis criou, no século XIII, o primeiro presépio:
reverenciar e adorar a vinda do Menino Jesus. Dona Geralda doou sua casa e
seu quarto para construção de um presépio, para algo maior e, como os Três
Reis Magos, muitos vieram trazer suas oferendas ao Jesus Cristinho.

Ganhou coisas simples de uma gente simples, fez uma linda obra, que encanta
e toca os corações daqueles que ainda acreditam nas coisas deste mundo. É um
resgate da tradição, no princípio ordenador da vinda de Cristo, uma lição de
amor. Está lá, no interior de Minas, mas universal, iluminado. Tudo que está
nele foi doado, de coração. É um centro armazenador da devoção humana.

O Natal dos presépios é um Natal que remonta um cenário cristão, de doação,
fé e reverência. Contrário ao Natal do Papai Noel. O Papai Noel é uma
personagem criada pela Coca-Cola em 1931, por isso traz suas cores
encarnadas, o vermelho e o branco. É um agente descristianizador,
patrocinado em todo mundo para apagar a verdadeira imagem do aniversariante,
o Menino Jesus. Jesus veio ao mundo como o Filho do Pai, em forma de
criança. O Papai Noel diz ser o papai de todas as crianças. Meu Deus, onde
esta figura foi colocada.

Sua barriga sugere a gula; o saco cheio, a esnobação; e a sua risada
ironiza àqueles que não podem ser seus escolhidos. É uma fraude ao
verdadeiro espírito natalino. Cristo nasceu enquanto seus pais viajavam em
lombo de mula, mesmo assim entrou na casa de todos. Papai Noel viaja em um
lindo trenó puxado por renas e visita a casa de poucos, muito poucos.

Falar que Papai Noel é uma alusão a São Nicolau é uma heresia. São Nicolau
era um santo homem, nasceu em 270 e morreu em 342, aos 71 anos. “Fez o bem,
sem olhar a quem”. Fundou orfanato, saciou a fome dos pobres, protegeu
marinheiros, ladrões e mendigos. Viveu sob a égide da caridade. Foi
perseguido e preso pelos Romanos. Por seu amor ao seu semelhante, tornou-se
Santo.

Papai Noel foi criado e financiado por uma empresa multinacional, vive no
pólo norte, distante de todas as crianças do mundo e no Natal sai
presenteando àqueles que podem comprar sua visita. Não tem pai, mãe, filhos
ou amigos. Não posso acreditar nele! É, no máximo, uma paródia de muito mau
gosto do nosso santo protetor.

Enquanto escrevo este artigo, acredito que o presépio de Dona Geralda tenha
recebido uma nova oferta. Talvez, um anjinho de barro, uma pedrinha
reluzente, ou quem sabe até, um Menino Jesus de madeira. Como estou cá,
distante dele, deposito nele este texto, esta oferenda ao Menino Jesus, ao
Jesus Cristinho - tão lindo, tão menino e tão amado... Que Deus abençoe Dona
Geralda, Olavo Romano e todo aquele que vive o Natal dentro e fora, o Natal
do criador, do nascimento à manjedoura, o Natal natalino, sem outras
palavras: Com a Graça de Deus!!!

Petrônio Souza Gonçalves é escritor e jornalista

www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com


Texto sugerido por Tadeu Martins, de Itaobim, morador de BH. Ele é poeta, contador de causos, promotor de evento e agente cultural.

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