quinta-feira, 24 de março de 2011

Cachaça da Salinas: Mito ou marketing?

Cachaça da Salinas: Mito ou marketing?
Muito conhecidas pelos apreciadores da tradicional cachaça mineira, as famosas marcas de Salinas têm gerado verdadeiros "mitos" acerca do segredo das cachaças da região. E não faltam histórias, sendo a mais famosa a de Anísio Santiago que, sem a preocupação de enriquecer, produzia sua cachaça em pequenas quantidades e com muita paciência (a Havana é envelhecida por 8 anos). É claro que com todo esse cuidado ele também não vendia pra qualquer um, o que ajudou a criar o mito da Havana, que rendeu até um livro publicado pelo seu neto, Roberto Carlos Santiago.

Até hoje, a Havana é produzida em pequena escala e seguindo os cuidados do falecido criador. Tão marcante quanto sua qualidade é seu preço que em algumas cidades do país pode ultrapassar os R$ 1 mil a garrafa!

Casos à parte, na pergunta sobre o que é mito e o que é verdade da qualidade das cachaças de Salinas não faltam explicações de especialistas e produtores e sequer chega-se a um consenso. Períodos de chuva bem definidos, solo fértil, cuidados no envelhecimento, tipos específicos de leveduras da região. Não faltam argumentos científicos, mas, como lembra Sebastião Cézar do Carmo, técnico da Emater de Salinas, o fato de muitos produtores terem seguido a "fórmula" de Anísio Santiago, produzindo pouco e com qualidade, contribuiu muito para o sucesso das cachaças da cidade.

Para Adalcino França Junior, diretor-geral do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais- Campus Salinas, não existe segredo nenhum. Mas ele também é produtor e admite que "um fator que agrega valor à cachaça e que aqui muitos fazem e muito bem é o envelhecimento. O armazenamento da cachaça por um período mais prolongado sem sombra de dúvida atribui muito valor ao produto". No Instituto Federal de Salinas também está sendo feita uma pesquisa para identificar as leveduras típicas da região que aparecem na cachaça.

Nivaldo Neves lembra ainda que não apenas os aspectos físicos e biológicos da região como também o modo de fazer, que foi culturalmente desenvolvido em Salinas, são determinantes para a qualidade da cachaça. Ele também ressalta que há o segredo de cada produtor, que pode envelhecer mais, produzir com graduação alcoólica maior, ter um alambiqueiro melhor. Enfim não faltam "segredos" para cada produtor fazer sua cachaça de forma diferenciada. Talvez a melhor maneira de desvendar os mitos por trás de Salinas seja experimentando as cachaças, conhecendo a cidade, seus produtores e suas fábricas, afinal de contas o bom jeitinho mineiro, esse sem segredo nenhum, dá um sabor especial a tudo.

Do UFMG/Polo Jequitinhonha

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