domingo, 13 de março de 2011

A ditadura nossa de cada dia

A ditadura nossa de cada dia Muito se tem discutido sobre a queda das ditaduras no norte da África e Oriente Médio, com as rebeliões populares no Egito, Líbia e outros países menos conhecidos.

A mídia e as pessoas argumentam contra estas ditaduras, afirmando que o melhor mesmo é a democracia como existe aqui no Brasil e em outros países.

Também acho. Lutei contra a ditadura militar e sofri na própria pele a ação dos ditadores que não conseguiram tolher os sonhos da minha geração e quase matam a nossa Presidenta Dilma Roussef.

Porém, pergunto: as ditaduras estão apenas nos países, nos governos, nos outros lugares?
Ao traçar o perfil de ditadores costuma-se destacar os comportamentos de mentes diabólicas, insensíveis, que oprimem, humilham ou matam aqueles que pensam diferentes. São perseguidos aqueles que não seguem seus lemas de governo, marcados por um homem só e seu grupo seleto e restrito.

Porém, há ditadores dissimulados, perspicazes, macios, que tramam, a todo momento, formas de enredar ou controlar a vida dos outros que pensam e agem diferente dele e que podem contrariar seus interesses pessoais e de poder.

Por essa bandas de Minas, há ditaduras explícitas e dissimuladas.

Este é um bom momento para a discussão de como é exercido o poder no dia a dia das nossas vidas. As ditaduras não estão apenas em um lugar longínquo da África e da Ásia.

A ditadura pode estar dentro da nossa casa, da nossa escola, do nosso bairro, da nossa comunidade, no nosso município ou Estado.

As decisões autoritárias são frutos da intolerância, do desrespeito ao jeito de ser, pensar e sentir daquilo que é diferente de nós. As atitudes arrogantes, preconceituosas, mandonas, com ausência de diálogos são frutos de frustrações de pessoas com dificuldades de convivência com os outros.

Todos nós temos nossos rompantes de autoritarismos, pois somos formados por uma sociedade opressora econômica, política, social e culturalmente falando. Porém, quando emendamos atitudes autoritárias uma atrás da outra é sinal que o problema está com a gente e não com os outros.

Todo grupo, empresa, instituição ou governo que concentra o seu poder de decisão nas mãos de poucas pessoas pratica uma forma de ditadura, de imposição, de desrespeito aos cidadãos.
Um governo municipal, por exemplo, não pode passar por cima dos poderes do Legislativo. dos Conselhos de controle social, das representações políticas, das lideranças comunitárias ou simplesmente dos direitos do cidadão, não importando se votou contra ou a favor do atual prefeito.

A democracia pressupõe obrigatoriamente a divisão do poder, as decisões compartilhadas, seja no próprio grupo político que comanda uma administração, seja entre o corpo técnico e político, seja em negociação soberana com a própria oposição ao governo municipal.

Esta mesma prática pode também se dar dentro da nossa própria casa. Quando acreditamos que, como pai ou mãe, não devemos ouvir os desejos e clamores dos nossos filhos, estamos impondo um modo de ser e pensar de uma geração na qual fomos formados.

O diálogo entre pais, filhos e outros membros da família é o melhor exercício e escola da democracia. Não somos democratas na vida pública se não formos junto à nossa família, grupo de amigos, vizinhos, comunidade, bairro, etc.

Somos também ditadores se acreditamos que somente nós temos razão e direitos. Que o nosso poder deve ser mantido a qualquer custo, custe o que custar. Quem não sabe dividir e compartilhar o poder e as decisões que afetam uma coletividade é tão ditador quanto os outros.

O exercício da democracia é uma das práticas mais difíceis da humanidade, mas é a melhor invenção dos homens.

Valores e princípios como solidariedade, respeito ao igual e ao diferente, amorosidade, comunitarismo, diálogo, são as bases de uma vida democrática, justa, humana e feliz.

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