quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Chapada do Norte: Festa do Rosário vira patrimônio imaterial do Estado

Chapada do Norte: Festa do Rosário vira patrimônio imaterial do Estado
Festividade de Nossa Senhora do Rosário, no Vale do Jequitinhonha, será a primeira do tipo a obter o título no Estado
Hellem Malta - Do Portal Hoje em Dia - 12/09/2011 - 18:34

A tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas, vai se tornar até novembro Patrimônio Cultural Imaterial. O registro será feito pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). A documentação está sendo finalizada e será votada no Conselho Estadual de Patrimônio (Conep). Essa será a primeira festa reconhecida pelo Estado como patrimônio.

“O pedido de registro foi feito pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, formada basicamente por negros e pardos. Ela é uma das poucas que se mantiveram ativas nesses quase 200 anos de existência da festa, que traduz uma mineiridade. Reconhecê-la como patrimônio é valorizar uma tradição cultural e manter as características desde o período colonial”, frisa Luis Gustavo Molinari Mundim, gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha. Segundo ele, os membros do Conep costumam confirmar o parecer do Iepha.

Unindo tradições católicas a ritos herdados dos escravos desde o século XVIII, a festa de Chapada do Norte surgiu, segundo os contos populares, a partir do aparecimento de uma imagem de Nossa Senhora do Rosário em um córrego nas proximidades do Arraial de Santa Cruz da Chapada, que passou a se chamar Córrego do Rosário. Por diversas vezes, os homens brancos buscaram a imagem e a colocaram em uma capela. Porém, a mesma desaparecia e reaparecia no córrego.

Os mais velhos contam que um dia os homens negros do arraial foram buscar a imagem, com muita festa, ao som dos tambores, cantorias e danças africanas, e a conduziram até a Capela do Rosário, feita exclusivamente para ela, onde ali permaneceu. Desde então, a festividade foi instituída em devoção à santa.

Realizada na primeira semana de outubro, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos dura 11 dias. Os festejos incluem novenas, cavalhada, congado, comidas típicas e procissões. Tudo ao som da sanfona, da viola e dos tambores. A cada ano, os membros da irmandade elegem um rei e uma rainha que ficam responsáveis pela organização da festa.

Entre as principais atrações está a “Quinta-feira do Angu”. Pela manhã, os fiéis fazem a lavação simbólica da igreja e de peças sacras e, no final da tarde, na casa da rainha, é feita a bênção e a distribuição do angu com fava, carne e feijão para a comunidade. No sábado é realizado o ritual de “Buscada da Santa”, no qual a imagem de Nossa Senhora do Rosário é levada do Córrego do Rosário ao som dos tambores e do congado.

À noite ocorre a encenação do Mastro à Cavalo, uma representação da batalha entre Mouros e Cristãos. Ela é finalizada com a conversão dos mouros ao Cristianismo e, em seguida, é levantado o mastro com a bandeira da Virgem do Rosário, acompanhado pelo toque dos tambozeiros.

Na madrugada de domingo acontece a alvorada pelas ruas da cidade. A missa é celebrada pela manhã e, depois, é formado o cortejo que acompanha o rei e a rainha em procissão pelo município. Na segunda-feira e último dia de festa, a irmandade recebe a inscrição de novos membros e empossa o rei e a rainha eleitos para a festa do próximo ano.

O presidente da entidade, Maurício Aparecido Costa, diz que a celebração da festa é a confirmação da religiosidade presente na população da cidade. “Tinha sete anos quando me tornei membro da irmandade. É uma tradição de família que quero passar para o meu filho de 2 anos. É uma festa secular e, para nós, o registro como patrimônio imaterial é importante para conservá-la e preservar as características dos nossos antepassados”, avalia.

No Estado, o modo de fazer o queijo do Serro foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial, pelo Iepha, em 2002. Já o toque dos sinos, a capoeira, o jongo do sudeste (uma espécie de dança) e o preparo artesanal do queijo Minas foram reconhecidos como patrimônios pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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