quarta-feira, 28 de março de 2012

Millor Fernandes, humorista mais talentoso do país, morre aos 88 anos

Morre Millôr Fernandes, artista de raros e muitos talentos
Morre Millôr Fernandes, artista de raros e muitos talentos
Escritor, tradutor, cartunista, entre outros, Millôr Fernandes, retratado em sua casa, no Rio (Foto: ©Ricardo Morais/Folhapress)
Morreu o carioca do Méier Millôr Fernandes, aos 88 anos, um desses artistas criativos que atuavam em várias frentes, com o mesmo talento, cada vez mais raros no mundo moderno. Ele era desenhista, escritor, dramaturgo, jornalista, roteirista de cinema e tradutor. Entre seus trabalhos mais importantes, está a fundação do jornalO Pasquim, em 1968, que se tornou um marco por representar uma frente na luta contra o regime militar e também por apresentar um novo modo de se fazer jornalismo, inovando principalmente nas entrevistas.
“Quem é que eu sou? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não se fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito mais tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e Ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda contra o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui”. Assim o escritor e jornalista se autodefiniu no texto “Autobiografia de Mim Mesmo à Maneira de Mim Próprio”, presente no livro “Contos Fabulosos”, lançado pela editora Desiderata, em 2007.
Millôr Fernandes começou como repaginador e contínuo no semanário “O Cruzeiro”, em 1938. Rapidamente, assumiu a direção da revista “A Cigarra”, assinando a seção “Poste Escrito”, com o codinome Vão Gogo, o qual, em seguida, utilizou na coluna “Pif-Paf”, da mesma “O Cruzeiro”, durante 18 anos. Fez tanto sucesso que, em 1957, ganhou uma exposição individual de seus trabalhos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. 
Tradutor de clássicos de autores como Sófocles, Shakespeare, Molière, Brecht e Tennessee Williams, Millôr Fernandes também não se esquivava das polêmicas. Em 1963, foi afastado da revista O Cruzeiro em função da criação “A Verdadeira História do Paraíso”, que foi considerado ofensivo pela Igreja Católica. Já em 2009, se desentendeu a respeito da digitalização de seus artigos, que haviam sido publicados sem autorização no acervo on-line da revista “Veja”, da qual foi um dos primeiros profissionais, em 1969, numa época em que a revista inovou no jornalismo brasileiro.
O humorista morreu na casa onde morava em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, em função de falência múltipla dos órgãos, segundo o filho Ivan Fernandes. No ano passado, ele foi internado duas vezes, mas, na época, não foram divulgadas informações sobre o motivo da internação, atendendo a um pedido da família. Millôr Fernandes deixa dois filhos, Ivan e Paula, e o neto Gabriel. “Em suma: um humorista nato. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Não perdem por esperar”, garantiu na mesma autobiografia.
guibryan1@redebrasilatual.com.br


Além de suas charges e reportagens, o escritor, jornalista, humorista e cartunista Millôr Fernandes deve ainda ser lembrado por outra função: a de fraseador. Em entrevista ao jornalista Sérgio Rodrigues, em 2009, Millôr disse que acreditava que as frases que criou deveriam persistir depois sua morte.
Em 1994, muito tempo antes de falecer, o escritor ganhou um livro que compilou 5.142 dos seus milhares de frases, na obra Millôr Definitiva: A Bíblia do Caos. Desde o início de sua carreira, Millôr, de humor ácido e intelectual, não poupou quase ninguém, atacando políticos, defeitos dos seres humanos, religião até a sua própria profissão.
Confira algumas frases ditas por ele de 1968, ano em que começou a trabalhar na revista VEJA, até a década passada.

Viver é desenhar sem borracha.
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar.
Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.
Certas coisas só são amargas se a gente as engole.
Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.
O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta.
Jamais diga uma mentira que não possa provar.
Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso.
De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.
Se todos os homens recebessem exatamente o que merecem, ia sobrar muito dinheiro no mundo
Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos.
Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.

Além de ir pro inferno só tenho medo de uma coisa: juros.

Desconfio sempre de todo idealista que lucra com seu ideal"

 “Quem mata o tempo não é um assassino: é um suicida”

 “O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é”

"A única vantagem de você ser bem velho é que ninguém vem te chatear com seguros de vida"

"No início do século passdo artistas criaram a arte não-figurativa. Estamos bem perto de criar a natureza desfigurada"

"O Brasil é realmente muito amplo e luxuoso. O serviço é que é péssimo."

"Erudito é um sujeito que tem mais cultura do que cabe nele"

 “O que o dinheiro faz por nós não é nada em comparação com o que nós fazemos por ele”

 “Apesar da escola, sou, basicamente, um autodidata. Tudo que não sei sempre ignorei sozinho”

Se é gostoso faz logo, amanhã pode ser ilegal.
Pontual é alguém que resolveu esperar muito.
Quando um chato diz: "Eu vou embora", que presença de espírito.
Passado: É o futuro, usado.

"na poça da rua
o vira-lata
lambe a lua"

"na imensa descida
a catarata
se suicida"

"Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar".
"A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo."
 Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.
 Nada é mais falso do que uma verdade estabelecida.
Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixas de papelão e pedimos uma ligação com a infância
 Não ter vaidades é a maior de todas.
 "O que é pior - a chamada mentira piedosa ou a verdade cruel?
 - Quão maravilhosas as pessoas que não conhecemos bem.
 Sexo "CAUSA" gente...
 Há certas mulheres que acabam ficando bonitas de tanto a gente dizer que são.
 O dinheiro não traz a felicidade. Manda buscar.
 O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia.
 O homem é o único animal que ri e é rindo que ele mostra o animal que realmente é"
 Errar é humano. Botar a culpa nos outros também.
 “Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento pra envelhecer.”
A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.
 "há colcha mais dura
que a lousa
da sepultura?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário