segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Berilo: CRAS recupera família do alcoolismo


Berilo: CRAS recupera família do alcoolismo 

Crianças retornam para a família depois de dois anos e meio na Casa Lar

Elvina Mendes Martins, de 33 anos, vivia na cachaça, na comunidade rural de Coqueiros, na região de Lelivéldia,no município de Berilo, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas.
Seus dois filhos, Álisson Mendes Martins, hoje com 11 anos, Mateus Mendes Amorim, agora com 8 anos, viviam soltos, brincando na comunidade. Às vezes, se aventuravam pelo povoado de Lelivéldia a légua e meia da sua casa.
Elvina Martins e seus filhos Álisson e Mateus
Seu companheiro Hélio Pereira Rocha, de 23 anos, também a acompanhava nas bebedeiras. Pouco trabalhavam na roça, permanecendo por horas inebriados pelo álcool.
Vina, como é conhecida, diz que estudou até a 4ª série na Escola Municipal de Monte Alto e na Escola Estadual de Lelivéldia. Ela informa que insistia para os meninos freqüentarem a escola, mas eles não a obedeciam.

Com as denúncias de moradores de Lelivéldia que acusavam Vina de abandonar os filhos, membros do Conselho Tutelar pegaram os meninos nas ruas do povoado, então com 6 e 9 anos, e os encaminharam para a Casa Lar, em Minas Novas, uma instituição de abrigo para crianças e adolescentes da Comarca. Isso aconteceu em julho de 2008.

Vina conta que procurou seus filhos durante dois dias, apavorada, desesperada. Algumas pessoas informaram que os meninos foram recolhidos pela Justiça, pois ela não se importava com eles. Ela se assustou por não terem comunicado nada a ela.
O alcoolismo que já estava entranhado na sua vida se aprofundou. Era seu único refúgio.
Intervenção de Assistente Social
A Assistente Social, Dirlane de Almeida da Silva Silveira, tomou conhecimento da história desta família, em maio de 2010, quando iniciou seus trabalhos de visitas às famílias em vulnerabilidade social. Dirlane diz que ficou chocada com a história de Vina.

Ao visitá-la, em sua residência, na comunidade rural de Coqueiros, Dirlane conta que a encontrava inebriada pelo álcool com dificuldades de diálogo. Seu companheiro Hélio a seguia no seu delírio. Eles viviam em extrema pobreza, com apenas R$ 65 de benefícios do Bolsa-Família.

Dirlane procurou estabelecer um vínculo de diálogo, confiança e apoio, tendo como objetivo a recuperação da sua saúde e vida familiar, com o retorno dos seus filhos.
Vina dizia que queria os filhos de volta, mas nada de iniciar o tratamento. Por várias vezes, foi marcada consulta com o médico da UBS – Unidade Básica de Saúde de Lelivéldia.
A Assistente Social, Dirlane Silva, a mãe Vina e os meninos Álisson e Mateus felizes pela conquista do convívio familiar

Ela contou que, em dois anos, havia feito apenas uma visita aos meninos na Casa Lar, em Minas Novas. Sentia que havia perdidos seus filhos. Vina diz que em nenhum momento ela foi orientada a se tratar ou teve apoio para recuperar seus filhos.

Por decisão judicial, em agosto de 2.010, a psicóloga da Casa Lar, junto com a Assistente Social Dirlane Silva, acompanhadas de Vina, visitaram várias famílias de parentes na região para que servissem como “famílias substitutas” ou guardiãs. Três tios maternos e avós paternos não tinham condições ou não desejavam acolher as crianças. Quase todos estavam envolvidos com o alcoolismo.
Vina, os meninos Álisson e Mateus, junto com funcionárias da Casa Lar, em Minas Novas
A partir daí, Dirlane fez um relatório e encaminhou ao Juiz de Direito, propondo uma chance para a mãe das crianças, para efetuar um tratamento multiprofissional, com o apoio e acompanhamento da equipe do CRAS, Secretaria de Desenvolvimento Social e Cultural e Prefeitura de Berilo.
O Juiz aceitou a proposta da Assistente Social.

Tratamento e recuperação

Houve várias tentativas de início do tratamento. Com a insistência de Dirlane, em setembro de 2010, Vina se propôs a fazer uma consulta médica e tomar os medicamentos recomendados.

Para que o tratamento fosse mais intensivo e desse resultado, Dirlane propôs a Vina e Hélio que eles se mudassem para Lelivéldia, com a Prefeitura de Berilo arcando com aluguel e cesta básica. Porém, eles deveriam fazer o tratamento de saúde e procurarem atividades de trabalho.
E assim foi feito.

Vina se entregou de corpo e alma na sua recuperação pessoal. Foi diminuindo o consumo de bebida alcoólica e procurou atividades de faxina em casas de famílias, capina de quintal e plantio de roça. Hélio, seu companheiro, vendo a melhoria de vida da sua amada também se propôs a fazer o tratamento.

Mediante a recuperação paulatina de Vina e seu companheiro, a pedido da Assistente Social, o Juiz autorizou que as crianças, Álisson e Mateus, passassem o Natal e as férias com a família, no período de 23 de dezembro a 28 de janeiro de 2011.

Crianças procuram liberdade e colo materno
A vida na Casa Lar era tida como boa para aos meninos. Porém, eles declaram que não gostam de ficar lá. Tentaram mais de 8 vezes a fuga. “A gente ficava longe da mãe da gente. Filho tem que ficar é perto da mãe”, declarou Álisson. Ele diz que fugia e levava o irmão mais novo. Os funcionários da Casa Lar os encontravam de madrugada, na cidade ou na estrada. Até a Polícia era acionada para encontrá-los.

Vina conta que soube que os meninos iam ser doados para outra família e ficava ainda mais triste, sentindo-se culpada por esse destino.
Momentos de despedida da Casa Lar, em Minas Novas
Alisson e Mateus estão felizes em ter passado o Natal e estar em férias com a mãe. Vina demonstra estar mais ainda.

O grande desafio de Vina é recomprar o mátrio poder dos filhos, convencendo o Juiz de Direito que ela está em condições de criá-los e educá-los.

Vina está disposta a fazer tudo e mais um pouquinho para que os filhos nem voltem para a Casa Lar quando terminarem as férias.

Ela já providencia inscrição no Concurso Público da Prefeitura e estuda para poder ocupar uma vaga de servidora municipal.

Enquanto isso, procura trabalho nas casas de Lelivéldia ou na capina de quintais e roças, pedindo a compreensão e apoio da comunidade para que sua família possa viver unida e feliz.

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