quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Eleições: o que está em jogo para PT e PSDB no 2º turno


Partidos que polarizam a disputa presidencial há quase duas décadas tentam ganhar terreno em grandes cidades com eleições ainda indefinidas

Jean-Philip Struck



Há quase duas décadas protagonizando a disputa pela Presidência da República, PT e PSDB travam neste mês um novo embate para ganhar o eleitorado nas capitais ainda em jogo e nas principais zonas metropolitanas com disputas no segundo turno.
Das 83 cidades brasileiras com mais de 200.000 habitantes (36,5% do eleitorado brasileiro), 50 delas escolherão seus prefeitos no próximo dia 28 – sendo 17 capitais. Isso significa que 22,5% dos votos do país (31,6 milhões de eleitores) ainda estão em aberto. É justamente nesse tabuleiro que tucanos e petistas projetam suas forças para consolidar eleitorado com vistas a 2014, quando os brasileiros elegerão presidente e governadores.
Os números mostram que os dois partidos têm boas chances de ampliar terreno. O PSDB até agora conquistou 693 prefeituras e ainda concorre em 17 das mais importantes. O PT ganhou em 628 municípios no primeiro turno e disputa em 22 na segunda fase das eleições. O PMDB, campeão de prefeituras neste ano, com 1.025, está no páreo em 16.
No centro desse embate, as duas siglas duelam pela maior cidade do país. José Serra, do PSDB, largou na frente no primeiro turno, com 30,75% dos votos válidos, e Fernando Haddad (PT), obteve 28,98%. A eleição paulistana entrou para a história como a mais acirrada: a diferença entre os dois candidatos foi de pouco mais de 100.000 votos num universo de 8,5 milhões de eleitores. Outro detalhe importante deve ser considerado: um em cada três paulistanos (1,5 milhão de votos) não foi às urnas no último domingo e mais de 12% do eleitorado não votou em ninguém (brancos e nulos).
Nesse conjunto das 83 cidades com maior densidade eleitoral, o PT venceu em oito no primeiro turno e administrará 3,6 milhões de eleitores. O PSDB faturou seis, com 2 milhões de eleitores. As duas siglas, entretanto, conquistaram apenas uma capital cada: os petistas ganharam em Goiânia (GO), que tem pouco peso eleitoral, e os tucanos em Maceió (AL), que apesar do pouco eleitorado, é estratégica para o partido ganhar musculatura no Nordeste do país.
“A vitória nessas cidades pode servir para mostrar que o partido está no jogo. No caso do PSDB, pode mostrar que ele continua forte mesmo fora do governo federal”, diz o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo. Ele afirma, entretanto, que as eleições municipais têm peculiaridades regionais. “Na disputa municipal, o eleitor costuma mesmo é olhar para o candidato, e não para o partido. Com exceção de São Paulo, é difícil relacionar os resultados que os partidos conseguiram com um projeto nacional.”

50 cidades vão ter segundo turno

• Estão em jogo 31.681.739 de eleitores
(22,5% do eleitorado do país)

Duelos entre os principais partidos nessas 50 cidades:
PT X PSDB: 6 (São Paulo, Rio Branco, Taubaté, Guarulhos, João Pessoa e Pelotas)
PT X PMDB: 4 (Mauá, Petrópolis, Juiz de Fora e Vitória da Conquista)
PSDB X PMDB: 2 (Sorocaba e Campina Grande)

Nas 83 cidades + 2 capitais sem segundo turno (Boa Vista e Palmas):
50.820.523 milhões de eleitores (36% do eleitorado do país)
PT ganhou em 8 no primeiro turno e disputa em 22
PSDB ganhou em 6 no primeiro turno e disputa 17
PMDB ganhou em 4 no primeiro turno e disputa 16
Choque direto - Em seis casos, PT e PSDB travarão confrontos diretos no dia 28, um universo de 10 milhões de votos: São Paulo, João Pessoa (PB), Rio Branco (AC), Guarulhos (SP), Pelotas (RS) e Taubaté (SP). Em duas delas – Guarulhos e João Pessoa –, o PT terminou o primeiro turno com mais votos do que os tucanos, mas nas demais a vantagem é do PSDB.
Guarulhos é administrada há quase 12 anos pelo PT, e a reeleição do prefeito Sebastião Almeida era dada como certa, mas o tucano Carlos Roberto conseguiu levar o confronto para o segundo turno. Em Rio Branco, o tucano Tião Bocalom conseguiu forçar um segundo turno com o petista Marcus Alexandre, que é apoiado pelos irmãos Tião Viana (governador) e Jorge Viana (senador). O PT controla Rio Branco desde 2005. Nas duas cidades, uma derrota petista teria peso enorme.
O PSDB também enfrenta o PT em Taubaté para tentar recuperar a influência no Vale do Paraíba. Os tucanos sofreram um duro golpe ao perder para o PT no primeiro turno a prefeitura de São José dos Campos (SP), que era governada há 16 anos pelo partido, e por isso a eleição em Taubaté ganhou ainda mais importância para a legenda. Os tucanos  fizeram 173 prefeitos no estado de São Paulo, maior número entre os partidos, o que reforça a base política do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A parceria entre a administração municipal e o governo paulista é o principal trunfo dos candidatos tucanos no estado neste segundo turno.
“Sempre tivemos dificuldade na implantação de um projeto do PT em diferentes polos do estado de São Paulo, já que o PSDB sempre foi mais forte, mas desta vez vamos tentar equilibrar as coisas porque isso tem implicações para o governo e para a Presidência em 2014”, afirma o presidente estadual do PT, Edinho Silva.
O PSDB também tenta conter ofensivas em redutos tradicionais, como Campina Grande (PB), do senador e ex-governador Cássio Cunha Lima. Lá, o oponente é do PMDB.
PT – Em Salvador, o PT enfrenta outra batalha difícil, desta vez com o DEM (Democratas), sigla que desidratou sensivelmente neste ano – elegeu 275 prefeitos, ante 495 há quatro anos – e hoje concentra todas as forças para tentar eleger o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto. O adversário é o petista Nelson Pelegrino. No primeiro turno, a diferença entre os dois candidatos na capital baiana foi de pouco mais de 5.000 votos.
O PT pressiona para que a presidente Dilma Rousseff, que no primeiro turno só participou da campanha em São Paulo e Belo Horizonte, atue diretamente para tentar eleger Pelegrino. Os argumentos usados pelo partido são simples: o DEM é hoje o mais ferrenho opositor ao seu governo no Congresso, e Salvador é o quarto maior colégio eleitoral entre as capitais, zona estratégica no Nordeste para ela tentar a reeleição daqui a dois anos.
Outro embate crucial para os petistas será com o PSB em Fortaleza. Uma vitória na capital cearense é vista como contrapeso à humilhante derrota sofrida pelo partido para o PSB em Recife (PE) e Belo Horizonte (MG). Além disso, administrar a cidade poderia minimizar a força do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial adversário da sigla na próxima eleição presidencial, no Nordeste. O PSB saltou de 308 prefeituras para 433, no maior crescimento proporcional (40%) entre as siglas.
Em Mauá, na região metropolitana de São Paulo, o PT enfrenta um complicado embate com o PMDB, que ganhou implicações nacionais. Em troca do apoio de Gabriel Chalita (PMDB) a Fernando Haddad (PT), os petistas fecharam um acordo nos bastidores para esfriar a candidatura de Donisete Braga, que enfrenta Vanessa Damo (PMDB). O ex-presidente Lula, por exemplo, não subirá no palanque de Braga.
PMDB - Em vários municípios, o projeto do PMDB também envolve ampliar terreno em cidades metropolitanas. Em Santa Catarina, o senador Luiz Henrique da Silveira tenta emplacar os prefeitos de Florianópolis e Joinville. Em Natal (RN), a candidatura de Hermano Moraes é costurada pelo líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o deputado Henrique Eduardo Alves.
O vice-presidente da República, Michel Temer, tem se empenhado pessoalmente para tentar alavancar seus candidatos, inclusive, viajando pelo país em horário de expediente, como na última quinta-feira, quando deixou Brasília para negociar o apoio do partido a Haddad em São Paulo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário