sábado, 6 de outubro de 2012

Época de eleição é época de emoção. Deveria ser da razão


"Os candidatos são todos iguais"

Por Frei Betto, originalmente publicado no jornal Folha de São Paulo


Época de eleição é época de emoção. A razão entra em férias, a sensibilidade fica à 
flor da pele. Em família e no trabalho, todos manifestam as suas opiniões.
Para Frei Betto, eleitores devem usar a razão 
ao votar
O tom varia do palavrão a desqualificar toda a árvore genealógica do candidato à veneração acrítica de quem o julga perfeito. Marido briga com a mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que possui a melhor análise sobre os candidatos...
Um terceiro grupo insiste em se manter indiferente ao período eleitoral. Todos os candidatos são considerados corruptos, mentirosos, aproveitadores ou demagogos (ou tudo ao 
mesmo tempo).


Mas não há saída: estamos todos sujeitos ao Estado. Ficar indiferente é passar 
cheque em branco, assinado e de valor ilimitado, ao candidato vitorioso. Governo 
e Estado são indiferentes à nossa indiferença, aos nossos protestos individuais.
É compreensível uma pessoa não gostar de ópera, de jiló ou da cor marrom. 
E mesmo de política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa 
existência, do primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com política.
A classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país. 
Houvesse menos injustiça e mais distribuição da riqueza, ninguém nasceria entre 
a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social em
que veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. O que não 
deveria ser considerado privilégio por quem nasceu nas classes média e rica, e 
sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte.
Somos ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro segue para o 
Ministério da Justiça. Vacinados, ao da Saúde; ao ingressar na escola, ao da 
Educação; ao arranjar emprego, ao do Trabalho; ao tirar habilitação, ao das 
Cidades; ao aposentar-se, ao da Previdência Social; ao morrer, retorna-se ao 
Ministério da Justiça. E nossas condições de vida, como renda e alimentação, 
dependem dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Em tudo há política. Para o bem ou para o mal.
O Brasil é o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou para pior. 
E os que o governam são escolhidos pelo voto de cada eleitor.
Faça como o Estado: deixe de lado a emoção e pense com a razão. As instituições
públicas são movidas por políticos e pessoas indicadas por eles. Todos os 
funcionários são nossos empregados. A nós devem prestar contas. Temos o 
direito de cobrar, exigir, reivindicar, e eles o dever de responder às nossas 
expectativas.
A autoridade é a sociedade civil. Exerça-a. Não dê seu voto a corruptos 
nem se deixe enganar pela propaganda eleitoral. Vote no futuro melhor de 
seu município. Vote na justiça social, na qualidade de vida da população, 
na cidadania plena.
CARLOS ALBERTO LIBÂNIO CHRISTO, 67, o Frei Betto, frade 
dominicano, é escritor, assessor de movimentos sociais e autor
de "Mosca Azul", "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros 
livros.
Texto publicado no Blog do MMC - Movimento Muda Capelinha

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