terça-feira, 9 de outubro de 2012

O vencedor foi Lula

Em São Paulo se travou a mãe de todas as batalhas.
Lula com Fernado Haddad no Comício em São Miguel Paulista-SP. 
Foto: Márcia Brasil
Fernando Haddad, além de superar as profecias do início da campanha, passou para o 

segundo turno em posição bastante favorável. 


O vencedor foi Lula   

  

Por Paulo Moreira Leite - Época - 08.10.12


Eu pergunto quanto tempo nossos analistas de plantão vão levar para reconhecer o 

grande vitorioso do primeiro turno da eleição municipal.

Não, não foi Eduardo Campos, embora o PSB tenha obtido vitorias importantes no 

Recife e em Belo Horizonte.
                                         
Também não foi o PDT, ainda que a vitória de José Fortunatti em Porto Alegre tenha 

sido consagradora. Terá sido o PSOL? Os “novos partidos”?

O grande vitorioso de domingo foi Luiz Inácio Lula da Silva e é por isso que os 

coveiros de sua força política passaram o dia de ontem trocando sorrisos amarelos.

Nem sempre é fácil reconhecer o óbvio ululante. É mais fácil lembrar a derrota do PT 

no Piauí, ou em São Luís.


Mas o PT passou o PMDB e foi o partido que mais acumulou votos na eleição. Tinha 

550 prefeituras. Agora tem mais de 600.


Vamos combinar: a principal aposta de Lula em 2012 foi Fernando Haddad que, 

superando as profecias do início da campanha, não só passou para o segundo turno 

mas entra nessa fase da disputa em posição bastante favorável. Em São Paulo se 

travou a mãe de todas as batalhas.

Imagino as frases prontas e as previsões sombrias sobre o futuro de Lula e do PT se 

Haddad tivesse ficado de fora…

A disputa no segundo turno está apenas no início e é cedo para qualquer previsão.

Mas é bom notar que as pesquisas indicam que Haddad é a segunda opção da maioria 

dos eleitores de Celso Russomano. Uma pesquisa disse até que Haddad poderia 

chegar em segundo no primeiro turno, mas tinha boas chances de vencer Serra, no 

segundo. 


Qual o valor disso agora? Não sei. Mas é bom raciocinar com todas as informações.

Quem assistiu a pelo menos 30 minutos dos debates presidenciais sabe que Gabriel 

Chalita já tem lado definido desde o início – como adversário de José Serra. O que vai 

acontecer? Ninguém sabe.


O próprio Serra tem uma imensa taxa de rejeição, que limita, por si só, seu potencial 

de crescimento.


O apoio de Russomano tem um peso relativo. Se ele não conseguia controlar aliados 

quando era favorito e podia dar emprego para todo mundo, inclusive para uma 

peladona de biquini cor de rosa descrita como assessora, imagine agora como terá 

dificuldades para manter a, digamos, fidelidade partidária…


O mais provável é que seu eleitorado se divida em partes mais ou menos iguais.

Não vejo hipótese da Igreja Universal ficar ao lado de José Serra. Nem Silas Malafaia 

com Haddad.


A votação de Haddad confirma a liderança de Lula e a disposição dos eleitores em 

defender o que ele representa. Mostra que o ambiente político de 2010, que levou a 

eleição de Dilma Rousseff, não foi revertido. Isso não definiu o resultado em cada 

cidade mas ajudou a compor a situação no país inteiro.


Os 40% de votos que Patrus Ananias obteve em Belo Horizonte mostram um 

desempenho bem razoável, considerando que o tamanho do condomínio adversário.


Quem define a boa vitória de Lacerda como uma vitória de Aécio sobre Dilma incide no 

pecado da ejaculação precoce.


O grande derrotado do primeiro turno, que mede a força original de cada partido, não 

aquilo que se pode conquistar com alianças da segunda fase, foi o PSDB.


O desempenho tucano sequer qualifica o partido como oponente nacional do PT. 

Perdeu eleição em Curitiba, onde seu concorrente tinha apoio do governador de 

Estado, desapareceu em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, terra do vice de José Serra 

em 2010 – que não é tucano, por sinal. 


Se a principal vitória do PSDB foi com um candidato do PSB é porque alguma coisa 

está errada, concorda?


Respeitado por ter chegado em primeiro lugar em São Paulo, Serra já teve 

desempenhos melhores.


As cenas finais da campanha foram os votos do julgamento do mensalão, transmitidos 

em horário nobre durante um mês inteiro. Tinham muito mais audiência do que os 

programas do horário político.


Menino pobre e preto, Joaquim Barbosa já vai sendo apresentado como um 

contraponto a Lula…


Antes que analistas preconceituosos voltem a dizer que a população de renda mais 

baixa tem uma postura menos apegada a princípios éticos – suposição que jamais foi 

confirmada por pesquisadores sérios — talvez seja prudente recordar que o eleitor é 

muito mais astuto do que muitos gostariam.


Sabe separar as coisas.


Aprendeu a decodificar o discurso moralista, severo com uns, benigno com outros, 

como a turma do mensalão do PSDB-MG, os empresários que jamais foram 

denunciados na hora devida…


Anunciava-se, até agora, que a eleição seria nacionalizada e levaria a um julgamento 

de Lula.


Não foi. O pleito mostra que o eleitor não mudou de opinião.

O eleitor mostrou, mais uma vez, que adora rir por último.


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