terça-feira, 24 de setembro de 2013

RECEPTIVO FAMILIAR: TURISMO SOLIDÁRIO NO VALE DO JEQUITINHONHA


Receptivo familiar: Turismo Solidário possibilita vivenciar a rotina de comunidades no norte e nordeste de Minas Gerais.

*Replicado do excelente Dentro do MochilãoAutora: Cris Marques

Há pelo menos uns quatro anos ouço falar de um programa em Minas Gerais chamado Turismo Solidário. Cheguei citá-lo nessa postagem de janeiro de 2012. Na época, tentei conhecer o projeto, mas por incompatibilidade de datas e meu curto tempo em Minas não tive oportunidade.




No início de setembro desse ano, cheguei no estado para passar uma temporada e pude, finalmente, conhecer o programa que abrange oito municípios do Alto Vale do Jequitinhonha, no nordeste do estado.

Programa de Turismo Solidário

Criado em 2005, pelo Idene — Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais em parceria com o Ministério do Turismo, o programa tem como objetivo despertar no turista o interesse em participar do processo de transformação social e econômico da região. Mais do que uma simples visita, o viajante é convidado a interagir, por meio da convivência, com os moradores locais. O programa incentiva o contato com a cultura local através de oficinas de artesanato, gastronomia e práticas rurais. Essa é uma forma de viajar que contempla regiões de riquíssima beleza natural e cultural.

O Vale do Jequitinhonha é uma das regiões com o menor índice social e econômico do estado. O programa é uma grande oportunidade de desenvolvimento, muito além do caráter econômico, e sim, como possibilidade de crescimento profissional e pessoal. O Turismo Solidário é uma alternativa para o desenvolvimento sustentável dessas comunidades, que utiliza o turismo como ferramenta de transformação e possibilita melhores condições de vida para quem vive na região.

Receptivos Familiares

Cada casa foi avaliada por uma equipe técnica e os moradores foram capacitados para receber os turistas.  O que não é nenhuma dificuldade para a hospitalidade do povo mineiro. O ambiente é sempre muito acolhedor e em qualquer casa que você escolher, será recebido  de braços abertos e com um bom cafezinho quente.


No curso de capacitação os moradores aprenderam que o visitante, ao fazer esse tipo de turismo, busca o contato com a realidade e cultura local, principalmente com a culinária. Foi recomendado ao receptivo sempre oferecer a boa e típica comida mineira que são acostumados a fazer no dia a dia.

O carinho e atenção é tão grande, que é impossível não se sentir em casa. Parecia que eu estava visitando os parentes do interior. As acomodações são em quartos que próprios moradores cedem para receber o turista. Apesar da simplicidade, tudo é muito limpo e bem organizado, para que o turista se sinta confortável e à vontade. Esse tipo de turismo valoriza o modo de vida local e incentiva a preservação desse estilo.

Falta de turistas é a maior dificuldade

Ao longo dos anos de estudo e prática com o turismo solidário e voluntário no Brasil, acompanhei inúmeros (ótimos) projetos e ações que foram extintos por falta de turistas. O caminho que segue o Programa Turismo Solidário de Minas Gerais não é diferente. Apesar de ainda existir, fomentar esse tipo de ação em uma região pouco explorada pelo turismo é muito complexo, pois envolve não somente os baixos índices de desenvolvimentos sociais e econômicos, como problemas de infra-estrutura que inclui a mobilidade — no caso, a falta dela. Aspectos esses, que  infelizmente, pesam para implementação de um produto turístico. Ainda mais, sendo uma proposta tão nova e “ousada” para os padrões de viagem dos brasileiros. Nessas condições adversas, o programa vai se mantendo na corda bamba.

Os receptivos me diziam que se sentem”ismuricidos” em relação ao Programa Turismo Solidário, mas ainda sim, têm esperanças de um dia ficar conhecido. Conversei muito com as famílias e a queixa de todos era sempre a mesma: falta de turistas.

Em oito anos de programa muitas famílias nunca receberam turistas. Algumas pessoas daqui já tiraram a placa que fica na frente da casa e não fazem mais parte do receptivo familiar.” Dalva é atualmente a única das cinco representantes do receptivo familiar em Santa Rita de Araçuaí.

O programa foi criado pensando que a longo prazo ele se sustentasse e criasse sua identidade própria. Isso na teoria. Porque na prática, muitos receptivos ainda estão ligados ao molde piloto e não conseguem caminhar com suas próprias pernas, embora estejam aptos para tal..

Os roteiros são bem elaborados e as comunidades tem muito o que oferecer para o turista. A maioria delas são cercadas de belezas naturais como rios, cachoeiras e montanhas. Outras, mantêm a tradicionalidade de festas religiosas, enquanto algumas são riquíssimas por saberes culturais e gastronômicos. As pessoas das comunidades envolvidas continuam acreditando na ideia do programa e não perdem a esperança da chegada dos visitantes. O que falta são os turistas, viajantes, mochileiros, andarilhos… Qualquer pessoa disposta a viajar fora da zona de conforto.

Concordo que a falta de informação — lê-se marketing do produto — é um agravante. Mas acredito que a comodidade dos turistas brasileiros seja o maior limitante. A maioria das pessoas acha lindo esse tipo de viagem, mas se quer, permitem-se viajar dessa forma. Consequentemente, não buscam nenhuma informação sobre. Afinal, consumir o que já está pronto é mais fácil. Porém, nem sempre é mais gostoso.

Quem sabe, lá no futuro, o Turismo Solidário realmente seja um meio de transformação social que gere renda para essas pessoas?

Em frente a casa de Dalva

Localidades

O Alto Jequitinhonha é uma região do semi-árido do norte de Minas Gerais. No programa são assistidos oito municípios com dezenove cidades contempladas. Cada localidade têm suas peculiaridades e histórias. Algumas cidades oferecem diversas opções de atividades em contato com a natureza como trilhas, cachoeira, rios, serras, pinturas rupestres e Parques Nacionais. Outras têm como principais características suas riquezas culturais com casas antigas, igrejas, festas religiosas e artesanato local.

Chapada do Norte
  • Sede
Couto Magalhães de Minas
  • Sede
Diamantina 
  • Mendanha
  • São João da Chapada
Grão Mogol
Sede
Minas Novas/Turmalina
  • Campo Alegre
  • Campo Buriti/Coqueiro Campo
São Gonçalo do Rio Preto
  • Sede
  • Alecrim
  • Bonfim
Serro
  • Sede
  • Mato Grosso e Ribeirão
  • São Gonçalo do Rio das Pedras
  • Milho Verde
  • Capivari

Como participar

O Turismo Solidário convida o visitante a conviver com costumes e tradições locais, proporcionando uma experiência única. Com uma extensa variedade de atividades, o visitante poderá escolher quais conhecimentos, percepções e habilidades deseja compartilhar.

A hospitalidade torna-se, assim, a forma de relação humana baseada na reciprocidade entre visitantes e anfitriões, caracterizando o Turismo Solidário como algo além de uma simples difusão de técnicas de bom atendimento na atividade turística, pois envolve valores éticos contidos na solidariedade” Rachel Ulhoâ – Idene

Todas informações sobre as localidades, eventos, descrição de cada família e atividades que poderá realizar no local, estão no www.turismosolidario.com.br. No próprio site é possível fazer a reserva, mas recomendo ligar diretamente para o receptivo familiar escolhido.

Os preços das hospedagens variam entre R$10 a R$35, a maioria inclui café da manhã e almoço.

De tudo que vivi, de tudo que aprendi… As pessoas que conheci foi o meu bem mais precioso. Levei na minha mochila o tempo e recebi em troca um café quentinho, o pão de queijo assado na hora, a história da anciã, a arte da artesã… Na grandeza da simplicidade, essas pessoas representam o povo mineiro de sorriso fácil e olhar sincero. O que fortalece nossas relações é a troca de afetos. Mais do que “turistar” é vivenciar, aprender e respeitar.

Fonte:  www.turismosolidario.com.br, via Blog do Jequi

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