terça-feira, 27 de maio de 2014

Araçuaí: Mais de 400 mulheres participaram do IV Fórum da Mulher do Vale.

Movimento das mulheres cresce com realização de IV Fórum da Mulher, da UFMG.

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Realizado entre os dias 15 e 16 de maio em Araçuaí, o IV Fórum da Mulher do Jequitinhonha alcançou, este ano, um recorde de participantes. Mais de 400 pessoas de 21 municípios envolvidos estiverem no evento ocorrido no Planalto Tênis Clube para debater e propor diretrizes, de forma colaborativa, sobre o cotidiano e as mazelas enfrentadas pelas mulheres da região do Vale do Jequitinhonha.

Organizado pelo Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem), com a prefeitura de Araçuaí e com a Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), esta quarta edição debateu a violência contra a mulher, a migração do Vale, mulher e política, além de uma campanha para envolvimento dos homens no combate à violência contra a mulher.
Entre outros presentes, estavam na mesa de abertura Dora Dipiô - grande protagonista da ação feminina da região, a coordenadora do Nepem, Marlise Matos, a representante da Faop, Maria Alice Braga, a coordenadora do Polo Jequitinhonha, Maria das Dores Pimentel e o prefeito de Araçuaí, Armando Paixão. 

"Homens e mulheres são igualmente humanos e, por isso, as mulheres que sofrem constantemente com a discriminação devem empoderar-se de seus direitos para alcançar essa igualdade", declarou Dora Dipiô em depoimento para a abertura solene.

Mesas
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A primeira mesa abordou a temática da violência contra as mulheres. Nessa mesa, um dos acontecimentos centrais foi a busca pela conscientização das mulheres sobre o tema em questão, com a apresentação de possíveis formas de solucioná-lo. 

A conferencista Nívea Mônica Silva, representante da Promotoria Estadual de Minas Gerais, falou sobre o machismo, sobre as construções históricas da violência contra mulher e comparou quadros típicos de épocas em que as mulheres estavam submissas aos maridos e ao trabalho doméstico, ao verdadeiro papel da mulher, que tem plena capacidade de assumir cargos políticos e ser protagonista na sociedade civil. Ela falou também sobre o movimento das Margaridas, a Lei Maria da Penha e o Dia da Mulher, convocando as mulheres para a luta, para que elas quebrem seus próprios preconceitos. Dora Dipiô também marcou presença na mesa, relatando a conquista da Delegacia Móvel, de atendimento exclusivo à mulher. O projeto governamental conta com dois ônibus equipados para cada estado, sendo um deles destinado à região do Jequitinhonha. A ideia é que ele possa ir a áreas rurais afastadas, uma vez que as mulheres dessas regiões têm menos autonomia e auxílio para modificar sua condição. 
 
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No dia 16, ocorreu a mesa que tinha como tema "Migração". A palestrante Maria Aparecida de Soares e Silva explanou sobre a realidade dos trabalhadores do Vale do Jequitinhonha que migram para a região do cultivo de cana. Esta é uma realidade constante dentro dos municípios da região do Jequitinhonha, os homens muitas vezes não têm opções ou oportunidades e são iludidos com a proposta de trabalhar nos canaviais. Dentro deste processo residem vários problemas como abandono familiar, acidentes de trabalho, violência doméstica, entre outros. A professora e suas colaboradoras construíram de forma detalhada como a migração do homem do Jequitinhonha se torna um problema de grande repercussão social: no primeiro momento que o homem sai de sua residência, ele sofre abuso e exploração em seu trabalho, e muitas vezes está exposto a condições agressivas do clima e do próprio manejo com as ferramentas. Assim, é induzido ao consumo de drogas para melhor lidar com o ritmo exaustivo do cotidiano. Quando este retorna para sua residência está agressivo, revoltado, drogado. A partir disto, instala-se uma violência generalizada dentro do domicílio, o contexto familiar que a mulheres casadas com os trabalhadores dos canaviais se inserem às levam também ao mesmo tipo de labuta.

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A última mesa abordou o tema "Mulheres na política". Quem teve a primeira palavra foi a professora Marlise Matos, que falou sobre a baixa participação das mulheres na política brasileira como um todo. Os dados trazidos por ela demonstraram que a ocupação das mulheres no cenário político é desproporcional à sua participação como eleitoras. Para ilustrar esta situação: a população brasileira conta com 51,8% de mulheres, destes apenas 20% são candidatas; para deputado federal são 4.173 vagas para candidatos, destes apenas 20% são mulheres. O argumento dos partidos é que as mulheres não querem se filiar quanto menos se candidatar. O ponto em que a palestrante queria chegar é que as mulheres são sub-representadas e por isso precisam votar criticamente, buscar informação e buscar se empoderar realmente dos direitos políticos que elas possuem. A palestrante seguinte foi Maria do Carmo Ferreira da Silva, ex-prefeita de Araçuaí. Ela contou sua trajetória política, colocando as dificuldades e desafios que enfrentou. Sua mensagem, porém, foi positiva: todas podem alcançar uma condição melhor para suas vidas, mesmo com os problemas. A última convidada foi a vereadora de Chapada do Norte, Adriana Coelho, que salientou o não apoio dado, muitas vezes, às mulheres na política e aos projetos que realmente têm a ver com o que as regiões precisam.
 
Eixos definidos
O Fórum da Mulher, que pretende ser um espaço de articulação e mobilização feminina para formação e capacitação no exercício da cidadania e empoderamento das mulheres, desenvolve em conjunto as propostas que serão elaboradas em seus eixos ao longo do ano. Para dar continuidade ao processo que se inicia no Fórum, foi estipulado que o primeiro eixo acontecerá em agosto de 2014 e terá a violência como pauta. O principal objetivo é mobilizar grupos do poder público e da sociedade civil, criando uma discussão permanente e conseguindo parceiros, investidores e colaboradores.

O segundo eixo acontecerá em setembro, e apresentará a proposta econômica de sistematizar o trabalho das mulheres, desenvolvendo projetos que possam levar os seus ofícios a outras regiões. Por último, o terceiro eixo ocorrerá em outubro, e tratará do ambiente cibernético, sua importância para ampliar canais e estimular a participação das mulheres na gestão dos espaços e na realização de materiais textuais e audiovisuais. Com a criação de espaço, instrução e incentivo ao uso das ferramentas digitais para a mobilização, pretende-se inserir as mulheres nas novas mídias e explorar suas ferramentas para "dar um toque feminino" à rede.
Oficinas
 
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No Fórum, também ocorreram oficinas, coordenadas pela professora Marlise Matos e ministradas pelos bolsistas do Nepem. Foram trabalhados o stencil, cartazes e frases de ordem, cobertura de mídia da passeata e músicas e bordões sobre violência. Houve grande engajamento das participantes, além de ter sido um momento de descontração, colaboração e integração das mulheres, onde elas entraram em contato com novas técnicas e se preparam para o ato, que ocorreu posteriormente às oficinas, pelas ruas de Araçuaí.
Saindo do  clube acompanhadas por um carro de som,  as participantes do Fórum colocaram seus cartazes e gritos na rua, formando uma passeata com trajeto que terminava na praça central da cidade.
 
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Fechamento
O IV Fórum da mulher encerrou sua quarta edição com uma plenária que determinou o local do próximo evento, que será em Virgem da Lapa em 2015. Também houve a entrega de presentes pela participação às principais atuantes do evento.
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O Fórum contou com a vivacidade e o ânimo das mulheres das 21 cidades representadas. Foram vários os momentos que elas se organizaram de forma independente para cantarem alegremente as canções que são passadas a várias gerações. Vários depoimentos emocionaram e geraram atos sentimentais das mulheres que, de certa forma, compartilham de experiências, sejam elas o abuso, exploração ou migração. Destaque para uma roda de canto que uniu todos os participantes em uma dança, o que foi muito emocionante, gratificante e divertido para todos.

Fonte: Polo Jequitinhonha/UFMG

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