segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ex-prefeito de Jequitinhonha Roberto Botelho poderá ser indiciado por fraude.

Município de Jequitinhonha na mira do Ministério Público Federal. Motivo: realização de eventos sem licitações públicas na comemoração dos seus 200 anos, festa da cidade e carnavais, no período de 2007 a 2012.

Ex-prefeito de Jequitinhonha (2005-2012), Roberto Botelho, no Baixo Jequitinhonha.

Um dos maiores esquemas de corrupção envolvendo emendas parlamentares ao Orçamento da União e fraude em licitações rendeu, somente em Minas Gerais até agora, 202 procedimentos instaurados pelo Ministério Público Federal (MPF), entre inquéritos e ações judiciais cíveis e criminais.

No caso do município de Jequitinhonha, o problema é licitações forjadas, contendo vícios administrativos, principalmente na realização de eventos sem emendas parlamentares, por isto ficou para a segunda etapa da investigação.

Eles apuram a participação de deputados, prefeitos e empresários em irregularidades na aplicação de verbas do Ministério do Turismo destinadas á realização de festas, com a contratação de artistas e bandas de música. 

A maioria desses procedimentos investiga contratos firmados com as prefeituras durante o período de 2007 a 2012, quando a pasta recebeu um volume elevado de emendas parlamentares que, juntas, chegaram a atingir a cifra de R$ 782, 5 milhões. Segundo dados da Controladoria Geral da União (CGU), o total de emendas parlamentares destinadas ao Ministério do Turismo aumentou 600% nesse período. Irregularidades na aplicação desses recursos foram denunciadas em 2009 por uma série exclusiva de reportagens publicadas pelo Estado de Minas.

Só na Justiça Federal mineira já tramitam 53 ações. Ao todo são investigadas 98 das 853 prefeituras mineiras, dentre elas a cidade de Jequitinhonha, o que representa 11% do total de municípios, em todas as regiões do estado. É possível que haja um número maior de cidades, pois algumas apurações tramitam em sigilo (mais fontes no MPF já nos informaram que mais várias outras cidades estão sendo investigadas), e não há como levantar o nome dos envolvidos. 

Algumas prefeituras são acusadas de irregularidades em mais de um procedimento, caso de Itabirinha de Mantena, cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, no Vale do Rio Doce, alvo de quatro ações. 

Entre 2007 e o ano passado, a cidade recebeu R$ 2,4 milhões de repasses do Turismo para a realização de sete festas e também para a reforma de praças e do centro de eventos. A maioria dos convênios dessa cidade foi bancado com emendas parlamentares de autoria do ex-deputado federal Carlos William (PSC) e do deputado federal João Magalhães (PMDB), acusados pelo MPF de participação nos desvios.

Outros municípios, como Reduto, na Zona da Mata, e Matias Cardoso, no Norte, respondem a três ações. E muitos outros são alvos de dupla investigação. Sete organizações não governamentais que receberam verbas para eventos também respondem a inquéritos. A região do estado com maior número de ações é o Norte de Minas e o Jequitinhonha, com 17 já em tramitação, seguida do Leste mineiro, com 16 processos.
As fraudes com verbas do Ministério do Turismo para a realização de festas substituíram outros esquemas de desvio de recursos públicos que utilizavam roteiro semelhante: um deles tinha como objeto a aquisição de ambulâncias pelas prefeituras por preços superfaturados e com dispensa de licitação. Para desmantelar a quadrilha, a Polícia Federal montou a Operação Sanguessuga, que prendeu empresários e políticos. Em outra operação, a João de Barro, a PF desmontou um esquema de fraudes em obras públicas nos municípios, principalmente na área de saneamento.

Esquema nacional
O MPF define todos esses casos como “um esquema de corrupção envolvendo parlamentares federais, prefeitos e ex-prefeitos municipais e empresários, que, com a manifesta intenção de desviarem verbas públicas federais, utilizaram um mesmo modus operandi nos convênios celebrados com o Ministério do Turismo para a celebração de festas”. A atuação consistia, de acordo com o MPF, em fraudar os procedimentos licitatórios, para direcioná-los a empresas previamente escolhidas, que, por sua vez, utilizavam falsas cartas de exclusividade com os artistas contratados para os eventos. Os cachês eram superfaturados, e o valor excedente, rateado entre os participantes das fraudes.

Prefeitos com bens bloqueados
O Ministério Público Federal (MPF) conseguiu, este mês, o bloqueio dos bens dos atuais prefeitos de Frei Inocêncio, Carlos Vinício de Carvalho Soares (PR), e de Caputira, Wanderson Oliveira Teixeira (PTB), e de seu pai, o ex-prefeito da cidade, Jairo de Cássio Teixeira, réu em outras ações do MPF que tratam de irregularidades na aplicação das verbas do Ministério do Turismo para a realização de festas.

O prefeito de Caputira é sócio da Linearte, contratada sem licitação pela Prefeitura de Frei Inocêncio. Wanderson já teve ligações com a WM Produções, registrada em Raul Soares, em nome de Ramiro Andrade Grossi, também réu em outras ações por causa das mesmas irregularidades, mas que emitia notas fiscais com endereço de uma casa na zona rural de Caputira. Também são alvo dos bloqueios os sócios das empresas que realizaram os eventos nas duas cidades, funcionários públicos e o ex-deputado federal Carlos William. O bloqueio atinge a cifra total de R$ 380 mil.

No caso de Frei Inocêncio, no Leste de Minas Gerais, os recursos eram destinados à realização de um evento chamado “Feira da Amizade”. Uma emenda parlamentar do então deputado Carlos Willian, no valor de R$ 100 mil, foi repassada para bancar os gastos com a feira, entre eles a contratação de artistas, feita sem licitação. Para justificar a dispensa da concorrência, o município exigiu da Linearte uma carta de exclusividade dos artistas apenas para os dias do evento, o que, para o MPF, já demonstra como o procedimento foi forjado, “já que nenhuma outra sociedade empresária poderia participar do certame, e tal fato já era de conhecimento dos requeridos”.

Na verdade, a legislação brasileira até admite a contratação direta, ou por meio de empresário exclusivo, de artistas consagrados pela crítica e opinião pública, mas, de acordo com o MPF, a Linearte não é e nunca foi empresários exclusiva dos artistas que se apresentaram nos eventos. “Sendo, portanto, ilegal a contratação dessas empresas pelo município de Frei Inocêncio e Jequitinhonha”. De acordo com a denúncia, a prefeitura de Frei Inocêncio chegou a simular a realização de uma pesquisa de opinião entre a população do município para justificar a escolha das bandas. O valor do prejuízo aos cofres públicos, calculado pelo Ministério do Turismo em março de 2013, foi de R$ 134.370,80, só em Frei.

Já em Caputira, o MPF conseguiu o bloqueio dos bens de Jairo Cássio de Teixeira, conhecido como Jairinho, dono da Tamma Produções, empresa denunciada por irregularidades na aplicação das verbas para festas em outras cidades. Ele é acusado de diversas irregularidades na execução do convênio firmado com o Ministério do Turismo para a realização do carnaval de 2008 na cidade. Em 2007, o então prefeito firmou convênio com o Ministério do Turismo, no valor de R$ 70 mil, para a apresentação de shows musicais no carnaval de 2008. De acordo com o MPF, a prefeitura simulou a inexigibilidade de licitação para a contratação dos artistas que iriam se apresentar durante o carnaval, alegando que a empresa contratada, Rogério Tavares Rodeio e Show, tinha a exclusividade dos artistas. Também afirma ter sido uma fraude a concorrência realizada para a contratação da empresa responsável pela montagem da infraestrutura dos shows.

Procurado por esta reportagem o ex-prefeito de Jequitinhonha, Roberto Botelho não foi encontrado, pois se encontra em campanha eleitoral para o cargo de deputado estadual por Minas, com grande chance de ser eleito devido á força econômica que exerce. Que segundo fontes planeja gastar o montante de R$12.000.000,00 (dose milhões de reais), para se eleger.

Em Jequitinhonha, o MPF apurará a contratação de sons, bandas, estrutura para fechamento (já que as festas são fechadas, e para ter acesso tem que se comprar abadás nas mãos de funcionários da prefeitura) e banheiros químicos de empresa de funcionário, o que não é permitido.

Fonte: Tom Zé, via Diário do Jequi.

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