quinta-feira, 3 de julho de 2014

Berilo: professora e poetisa Haydée Murta morre, aos 86 anos.

Haydée de Almeida Murta nasceu em Berilo, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, em 1928,  na Rua do Porto, no Casarão do Inconfidente Abreu Vieira. Faleceu ,aos 86 anos, na madrugada desta segunda-feira, 30.06.14, no Hospital da cidade de Sete Lagoas, onde morava junto com a sua filha Marise Murta.
  
Professora aposentada, Dona Haydée era viúva de Antônio da Circuncisão Amaral. Deixou os filhos Múcio, Maria Lúcia, Celso, Marise, Marluce e Adelzira. Muitos netos e bisnetos. Seu filho mais velho, Ildeu, faleceu há alguns anos.
  
Dona Haydée foi uma verdadeira mestra. Foi professora do ensino fundamental nas 4 primeiras séries. Deixou marcas em todos seus alunos que se formaram no gosto pela leitura, pela boa literatura, na Escola Estadual Professor Jason de Morais, em Berilo, nas décadas de 50, 60 e 70. Gostava de ler, escrever e recitar poesias. Fui um dos seus alunos. Com ela, aprendi a ler e escrever, como também de apreciar a literatura brasileira.
Ela era poetisa,  educadora e memorialista  do município de Berilo, no Vale do Jequitinhonha. 

Casarão na Rua do Porto, em Berilo, onde nasceu a poetisa Haydée Almeida Murta.

Professora aposentada, mas como agente cultural e memorialista ela travou uma luta em favor da preservação do Casarão Abreu Vieira, prédio colonial de Berilo, onde nasceu. 

De acordo com o advogado Múcio Amaral Murta, um dos seus 10 filhos, ela já estava com a saúde  frágil há algum tempo, desde quando foi internada, há 3 anos, após uma viagem de turismo.

O corpo de Haydée Murta foi sepultado em Sete Lagoas, na região Central, a 72 km de Belo Horizonte.


Dona Haydée teve seus poemas publicados pela Barkaça de Divinópolis e na Antologia Poética do Vale do Jequitinhonha.

Ela sempre declamou suas poesias cheias de musicalidade, falando da natureza, do Jequitinhonha, do artesanato.

Conheça uma delas, sobre o Ribeirão das Gangorras, em Berilo, onde a família tinha uma fazenda.

Súplicas 

Haydée Murta 

Ó meu Ribeirão, das malvas malvinas!... 
Das Gangorras, das corredeiras. 
Onde estão tuas águas cristalinas, 
Tuas cascatas e cachoeiras? 


O homem incrédulo ou desavisado 
Destruiu teu leito, tua nascente. 
Tristonho, hoje, olha desolado, 
Procurando o verde da tua vertente. 



Comunidade imprevidente, 
Grandes e pequenos fazendeiros, 
Prejudicam tanta gente inocente, 
Na irrigação de vastos cafeeiros, 
Ó meu querido Ribeirão, 
Não ligues pra essa gente não, 
Mostra a tua valentia de então, 
Com galhardia levanta teu tufão. 



Destemido, quebra todas as barragens, 
Arranca cercos, tudo, tudo que impede, 
Tua vida, tua livre passagem. 
O povo aflito te implora e pede. 



Lembra-te daquele chuvoso dia 
Quando ainda eu era criança? 
Chegaste cheio, levanto tudo que havia, 
Teu furor nunca me sai da lembrança. 



Em pânico, corri, abracei meu pai 
Estavas insano, louco, bravio demais. 
Avante camarada! Repete este gesto, vai. 
Intrépido, provocarás euforia, uai! 



Olha bem, mira em tua volta, 
Quanta secura, quanta tristeza, 
Ressequidos ingazeiros, com certeza, 
Abrigam famintas gaivotas. 
Secaram as goiabeiras e assa-peixes, 
As flores silvestres, as aquáticas violetas, 
Triste destino dos girinos e peixes, 
Das abelhas, beija-flores e borboletas. 



É triste, dolorido, mas pura verdade. 
Teu leito desnudo, sapos e peixes perecendo... 
Água sumindo, a vida se esvaindo... 
Reage querido, afoga todo tipo de maldade! 



Ó meu Ribeirão, meu amigo, 
Não te acomodes não!... 
Volta a correr, viver com teus irmãos, 
Volta!... irriga este chão, 
Acalma o meu coração!... 




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