sexta-feira, 11 de março de 2016

Olha a lenha! Olha a lenha!

Olha a lenha! Olha a lenha!


A outra perguntou: - É pra forno ou pra fogão!?



Essa mulher levanta antes do sol sair, pega um facão, um machado e entra no mato adentro mal alimentada, geralmente descalça cortando galhos secos para formar seu feixe e a tarde vai vender por um preço que mal dá para comprar o essencial.



Vez ou outra eu me dou ao luxo de ficar matutando sobre o tempo que passou.



Vôos longos de volta ao passado nas asas mágicas da saudade. Vou revivendo as cenas que adornaram minha infância e ficaram para sempre na lembrança. Caminho pela minha cidade de anos atrás. Minas Novas carregada no meu peito.



Hoje, não sei porquê, lembrei dos dias distantes dos fogões à lenha.



Puxa vida, nos tempos do fogão à lenha a vida era bem mais difícil para as donas de casa.
Enquanto a senhora me oferecia a lenha para comprar,eu ficava passeando em seu pensamento ouvindo dizer coisas sem sentido, pelo menos no que me refiro ao sentido, mas em se tratando de mato, ela tinha firmeza de contar o que acontece neste trabalho árduo.



Vá lenhadora, vá cortar as árvores enquanto elas existirem. Angelim, jatobá, buriti, angico e gabiroba. Enquanto as serras, as máquinas não derrubarem nossas florestas. Nossos pequizeiros e mangabeiras. Vá lenhadora e cuide da natureza enquanto há tempo, enquanto ainda existirem fios d'água nos rios, enquanto tem flora e fauna, enquanto o eucalipto não leva sua fonte de renda. Enquanto ainda se ouve o canto misterioso dos juritis e de tantas outras aves que nem me lembro mais o nome.



Vá sobrevivendo ao medo, aos pés rachados, ao calor do sertão para ganhar o pão de cada dia de quem vive neste Vale do Jequitinhonha.

Deyse Silveira Magalhães, promotora de eventos, agente cultural, filósofa e escritora, de Minas Novas, em janeiro de 2015. 

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