segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Alexandre Kalil é eleito prefeito de Belo Horizonte

Com 100% das urnas apuradas, ex-presidente do Atlético está eleito com 52,98% dos votos

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PUBLICADO EM 30/10/16 - 19h05
Com 100% das urnas apuradas, Alexandre Kalil (PHS) já está eleito como o novo prefeito de Belo Horizonte, com 52,98% dos votos, vencendo com margem estreita o candidato João Leite (PSDB).
O segundo turno foi marcado pelos ataques entre candidatos e pela virada ocorrida logo após o começo da propaganda eleitoral, superando a vantagem inicial de João Leite, que teve 33,4% dos votos na primeira etapa eleitoral, enquanto o empresário teve 26,56%.
Veja o discurso da vitória de Kalil
Disputando a prefeitura pela primeira vez e contando com pouco tempo de televisão no primeiro turno, Kalil e seus coordenadores de campanha souberam usar muito bem as redes sociais e os debates para firmar a imagem de que não era político. Em uma disputa de onze candidatos, Kalil superou Délio Malheiros (PSD), vice-prefeito de Marcio Lacerda (PSB), o petista Reginaldo Lopes e o peemedebista Rodrigo Pacheco, que tinham coligações teoricamente mais fortes e mais inserções na televisão e no rádio.
Depois de abrir vantagem nas pesquisa do segundo turno, Kalil viu a diferença diminuir com a exibição de propagandas que exibiam críticas de ex-funcionários de suas empresas. A margem estreita fez com que tanto Kalil quanto João Leite subissem o tom das críticas, em especial nos debates televisionados, em especial no debate feito na Rede TV.
Kalil reagiu usando os programas eleitorais para reforçar sua imagem como gestor, usando não só a gestão de suas empresas como também o período que esteve a frente do Atlético, e aumentando a artilharia contra o adversário. No último debate, feito na Rede Globo, ele chegou a ler uma lista dos cargos de apadrinhados políticos do PSDB na prefeitura de Belo Horizonte e declarou que a filha de João Leite tinha assumido um cargo na secretária de saúde graças ao pai.
Veja nossa sabatina com Alexandre Kalil
O perfil de Kalil
Empresário do ramo de construção civil, Alexandre Kalil, 57, largou o curso de engenharia no quarto ano para se dedicar ao trabalho na empresa fundada pelo pai e pelo tio, a Erkal. De jeito bravo, quase grosso, Kalil, durante a campanha, nunca se preocupou em acatar as recomendações de marqueteiros e assessores quando aparecia em frente à imprensa ou em eventos. Durante as agendas, era cena comum observar o empresário fazendo fotos de cara amarrada. Curiosamente, ao contrário do que se pode esperar de um candidato durante eleição, Kalil não procurava repórteres e fotógrafos. Por mais de uma vez, inclusive, chegou a ironizar um profissional de sua própria campanha que pedia, aos gritos, que ele virasse em sua direção.
Apesar disso, há quem jure de pé junto que o empresário tem bom-humor e cordialidade. “É uma pessoa bem- humorada, que brinca bastante. É incisivo, confronta opiniões, mas sempre foi aberto ao debate. É fácil de trabalhar”, conta o diretor jurídico do Atlético, Lásaro Cândido Cunha, que entrou para o clube no primeiro ano de Kalil como presidente.
Embora seja entusiasta de uma ideia tecnocrata e de permear o sonho liberal de um governo de especialistas, o empresário não descartou reuniões com conhecidas lideranças partidárias para lançar sua candidatura. Ainda filiado ao PSB, não se acertou com o prefeito Marcio Lacerda.
Depois, foi cotado pelo PMDB, mas discordou das já esperadas contrapartidas solicitadas por caciques da legenda. Em Brasília, um solitário Antonio Anastasia (PSDB) visualizava potencial em Kalil, mas, com um diretório municipal desunido e repleto de pretendentes, a ideia tucana não avançou.
Semanas depois, o diálogo com lideranças do PHS cresceu naturalmente. A ideia de uma candidatura quase independente agradou às duas partes, já que a legenda também observava a chance de crescer com um candidato relevante durante a eleição majoritária na capital.
Turrão, mas gente boa
Para o deputado Iran Barbosa, um dissidente do PMDB que apoiou o empresário desde o início, Kalil faz o estilo paizão. “Quando ele tem que elogiar, elogia sem medir esforços. Quando vai criticar, critica de verdade. É um estilo meio paizão”, conta. Segundo o coordenador de mídias sociais da campanha, Alberto Lage, as melhores reuniões do pleito aconteciam na casa de Kalil, quando, após horas de planejamento e discussões, o empresário preparava esfirras. “Agora, ele está com a agenda apertada demais para fazer isso”, diz. Segundo o próprio Kalil, seu prato favorito na hora de ir para a cozinha é, além das esfirras, um charuto árabe. “Receita de família, aprendi com minha mãe”, diz.
“Ele faz cara feia quando corrigido. Para, pensa um pouco, mas acaba aceitando e valorizando a sugestão. É diferente do padrão do político que finge que não liga de ser criticado, mas, depois, guarda rancor para sempre”, compara Lage.
Diante de declarações polêmicas, alfinetadas e provocações, não era raro ver o empresário envolvido em um bate-boca com rivais. Um dos mais quentes e que lhe rendeu um processo foi com o ex-diretor de futebol do Cruzeiro Valdir Barbosa. Na época, Kalil chegou a chamá-lo de “lacaio”. O dirigente, hoje no Coritiba, no entanto, diz não guardar mágoas. “Isso foi coisa do futebol, acontece. As questões já estão todas resolvidas”.
Rival de Kalil durante a eleição a presidente do Atlético em 2011, o engenheiro Frederico Couto, que chegou a fazer críticas duras a ele, se diz convencido de que Kalil é a figura que o momento pede. “Ele tem as condições necessárias para ser um bom prefeito. Minhas críticas eram puramente administrativas, sendo que o segundo mandato dele foi ainda melhor que o primeiro. Penso diferente em muitas coisas, mas não tenho dúvidas de que ele é a melhor opção”, declara.
Rápido no gatilho
Em 2014, quando o viaduto Batalha dos Guararapes caiu matando duas pessoas, o advogado tributarista Rodolfo Gropen, hoje presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, estava com Kalil. O prefeito Marcio Lacerda se dirigia para uma coletiva, e Gropen questionou Kalil sobre o que ele diria na situação. “Diria só uma coisa: alguém precisa ser preso, nem que seja eu’”, resumiu o empresário.

Dirigente
No Galo, Alexandre Kalil encontrou um clube em crise. Dívidas milionárias, tanto tributárias quanto trabalhistas, atrasos nos pagamentos de funcionários e de jogadores, dezenas de cargos administrativos e de marketing e, no futebol, carro-chefe da entidade, goleadas e derrotas históricas. Era a tempestade perfeita que, um mês antes, fez com que o ex-presidente Ziza Valadares deixasse o comando. Um dos primeiros atos foi a extinção de todo o departamento de marketing e de diretores com salários que rivalizavam com os dos próprios jogadores. O enxugamento da máquina atleticana fez aumentar o investimento no futebol, mas não impediu que a dívida do clube crescesse na mesma proporção.
“Kalil formou uma diretoria competente no Atlético, que contava apenas com especialistas. Na época em que ele fez os convites, não conhecia nenhum dos diretores, não chamou ninguém por amizade. Chamou porque sabia que fariam um bom trabalho”, conta Rodolfo Gropen. Ao fim dos seis anos em que foi presidente do Atlético, Kalil viu a dívida do clube crescer em quase R$ 130 milhões. Costuma argumentar que, quando entrou na instituição, a dívida já era impagável, e seu crescimento foi causado por juros. “Em todos os balanços de minha administração, o clube foi superavitário”, justifica.

Família
Pai de três filhos, Kalil é apegado à família. Por isso, consultou o trio antes de se lançar à prefeitura da capital. Namorada de Kalil há dez anos, a paisagista Ana Laender participava de gravações, dava opiniões e revia os debates ao lado dele para que ele refletisse sobre seu desempenho. O pai, Elias Kalil, ex-presidente do Atlético na década de 1980 e falecido em 1992, é uma figura constantemente citada pelo empresário em entrevistas.
Em 2013, após a conquista do título da Libertadores pelo Galo, Kalil atribuiu ao pai o escorregão de um atacante adversário que saía de cara para o gol vazio: “Foi papai, lá do céu, que puxou a perna dele”. “Acho que, se papai visse minha campanha, ficaria feliz. Ele sempre foi um homem religioso, um homem que gostava de ajudar instituições, de ajudar as pessoas. Tenho certeza de que vai ficar orgulhoso de me ver cuidando da cidade”, diz o empresário, que se aproximou da religiosidade depois de perder sua principal referência.

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