sexta-feira, 14 de abril de 2017

A implosão do sistema político como estratégia

Jeferson Miola*

A abertura do sigilo das investigações da Lava Jato tem o efeito bombástico de implodir o sistema político. Num sistema derrocado, nada fica em pé, nem mesmo a candidatura Lula.
Esta medida extremada não parece ser o desfecho original idealizado para a Lava Jato, mas pode significar a alternativa restante para evitar o retorno do Lula à presidência do Brasil.
É cada vez mais claro que Lula e o PT sempre foram os alvos estratégicos da Lava Jato. Os estrategistas da Operação apostavam que o golpe causaria a derrocada do PT e a destruição simbólica do ex-presidente Lula no imaginário popular. Não foi, porém, o que aconteceu.
Com o aprofundamento do golpe, Lula se consolidou como o único personagem, de dentro do sistema político, com viabilidade eleitoral e, sobretudo, com autoridade moral e política para pacificar o país e comandar a reconstrução econômico-social e a restauração democrática do Brasil.
Afora Lula, só restam opções por fora do sistema político tradicional; restam os outsiders, os aventureiros, os demagogos populistas; um Sílvio Berlusconi da Lava Jato – alguém, por exemplo, como o prefeito paulistano João Dória.
A abrangência e o caráter sistêmico da corrupção que abastece o sistema político exige uma reforma política radical, que tenha como pontos de partida [1] o fim do financiamento empresarial da política, das eleições e dos partidos e [2] a eliminação da esquizofrenia em que um presidente eleito com 60% dos votos tenha menos de 15% de representação no Congresso e seja obrigado, assim, a formar governos de coalizão sem identidade programática.
A força-tarefa da Lava Jato, todavia, descarta a reforma política necessária, porque entende que o sistema deve ser totalmente implodido para dar lugar ao nascimento de novas estruturas, de novas instituições e de políticos puros, limpos, honestos e probos como eles, os juízes, procuradores, os “gestores”, os “não-políticos”, os pregadores, os “joãos trabalhadores” ...
A divulgação da vasta corrupção dos partidos do bloco golpista, em especial do PMDB, PP e PSDB, causa a falsa aparência de imparcialidade da Lava Jato, porque finalmente teria deixado de ser seletiva nos vazamentos e nas denúncias. Esta falsa aparência é requintada com a citação de todos ex-presidentes da República.
Mas na realidade, é apenas um simulacro de justiça e isenção; é uma falácia para seduzir o senso comum e, ao mesmo tempo, servir de álibi para o arbítrio preparado contra o ex-presidente Lula.
Os expoentes políticos da direita, numerosos, foram todos protegidos com o foro privilegiado e, por isso, dificilmente serão julgados antes de 2022. Os principais candidatos golpistas à eleição presidencial [Alckmin, Aécio e Serra], que já exibiam desempenho ridículo nas pesquisas, ficaram definitivamente inviabilizados com a revelação da roubalheira em que estão envolvidos, mas ainda assim protegidos com o foro privilegiado e uma investigação lenta.
Por outro lado, os ex-ministros dos governos petistas, e, notavelmente, o ex-presidente Lula – a jóia da coroa da Operação – serão julgados ainda em 2017 com celeridade e arbítrio por um juiz faccioso, dominado por sentimentos odiosos e fascistas.
O derrocamento do sistema político pode representar a estratégia da força-tarefa para impedir o regresso do Lula à presidência do Brasil, ao preço do estilhaçamento do país no precipício.
JEFERSON MIOLA
Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial

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