terça-feira, 6 de junho de 2017

Contrastes: À beira do Lago da Barragem de Irapé, moradores de Peixe Cru convivem com a falta de luz

Lugarejo fica no município de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha

Foto: Juarez RodriguesMoradores de Peixe Cru,  erguido pela Cemig, convivem com a falta de luz
Morador da Comunidade de Peixe Cru, Seu Juscelino depende de velas para clarear a casa em que vive
A energia elétrica que ajuda no ganha-pão de Juscelino Lodeiro durante o dia, quando o homem que ficou entusiasmado ao avistar pela primeira vez a Usina Hidrelétrica de Irapé, é a mesma que lhe tira o sono, à noite, horário em que ele depende de velas e candeeiros para clarear seu pequeno rancho, num dos extremos de Novo Peixe Cru, distrito de Turmalina, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas.

Usina de Irapé
Usina de Irapé
 O sítio Senhora Aparecida é um dos orgulhos da vida do agricultor que se dedica à fabricação de farinha. “Mas falta algo importante...”, reclama. Ironicamente, o xará do ex-presidente revela que “algo importante” é justamente a energia elétrica. Juscelino esbraveja que, há quatro anos, tenta a instalação do serviço junto à Cemig. Por sarcasmo do destino, o povoado em que ele mora, Novo Peixe Cru, foi erguido pela estatal como contrapartida à construção de Irapé. Sertanejos que habitavam as margens do Jequitinhonha foram realocados pelo governo em outras áreas.
 Nova Peixe Cru
Nova Peixe Cru
 Foi assim que Peixe Cru mudou de lugar e virou Novo Peixe Cru. Na década passada, quase 40 famílias foram transferidas para uma chapada, entre quatro e cinco léguas – cada medida tem seis quilômetros – das antigas moradias. As residências receberam eletricidade e atraíram, anos depois, forasteiros, como o próprio Juscelino.
Ele achou bom negócio comprar a chácara, há quatro anos, mesmo sem energia elétrica na propriedade. “Desde então tento instalar a luz. Aliás, não posso só falar. Tenho que mostrar. Aquele fio que passa ali, ali no meu terreno, é fiação de energia elétrica. Mas não tem ligação para o rancho. Procurei a companhia e não fui atendido”.
 O lavrador tem esperança de que um dia a luz chegue à propriedade: “Ainda mais porque energia elétrica não é coisa barata”. O serviço permitiria a Juscelino usar as máquinas, atualmente paradas, no preparo da ração das criações. “Cuido de galinhas e porcos”, contou o homem, também dono de um pangaré cujo couro foi machucado numa cerca de arame.
 Apesar da reclamação dele, a Cemig informou “desconhecer a existência de propriedades sem energia no povoado, pois não foram feitos pedidos de ligação nova na comunidade”. A empresa “orienta aos interessados a formalização das solicitações de extensão de rede por meio dos canais de atendimento”.
 Enquanto a energia não chega ao rancho de Juscelino, os vizinhos têm elogios e críticas a Novo Peixe Cru. Valdir dos Santos, presidente da associação dos moradores, conta que perdeu dinheiro com a mudança do povoado, pois precisou se desfazer do rebanho e abandonar o ofício de produtor de aguardente.
 “Havia água à vontade e eu plantava cana-de-açúcar. Dava pra fazer 25 mil litros de cachaça por ano. Aqui não posso cultivar a lavoura, pois o terreno é numa chapada, é mais seco. Depende de irrigação e o preço fica inviável. Tive de abrir mão de 48 cabeças de gado, porque a terra não é apropriada para criar as vacas à solta (oposto de confinamento)”, explicou Valdir.
 Já Reginaldo Pereira, de 27, gostou do atual povoado. “Era difícil chegar ao antigo Peixe Cru, devido ao caminho tortuoso e de terra. Agora, estamos na beirada do asfalto. É bem mais fácil ir a Turmalina. Portanto, mais fácil conseguir emprego na sede do município”.
Fonte: Jornal Estado de Minas, no Caderno Especial "Jequitinhonha, Terra de Contrastes, de 04.06.2017.

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