sexta-feira, 23 de junho de 2017

Minas Novas: Festa do Rosário atrai fiéis católicos e turistas apreciadores da cultura popular


Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, uma das maiores manifestações do catolicismo popular do Vale do Jequitinhonha .
A "Buscada da Santa" no rio Fanado é um dos momentos mais prestigiados da Festa, a partir das 10 horas, de 23 de junho.

Minas Novas é uma pequena cidade do Vale do Jequitinhonha, distante 520 km de Belo Horizonte e 216 km de Diamantina. Tem o orgulho de possuir o primeiro "arranha-céu" de Minas, um casarão de 4 pavimentos construído em pau-a-pique.  

Mas, não é só nisso que Minas Novas se destaca. Diferentemente de outras cidades e localidades, que mantém a Festa do Rosário, Minas Novas celebra a sua no mês de junho, mais precisamente nos dias 23, 24 e 25, em coincidência com a data da festa de São João.

Além do reinado, cujo cortejo é uma atração à parte, a festa em Minas Novas apresenta  duas características que a distinguem das outras: a busca da imagem no rio Fanado, que banha a cidade, e o traslado do cofre, no qual se depositam as contribuições anuais dos irmãos e irmãs do Rosário. 

A primeira solenidade dos três dias finais da festa que, na verdade, têm início dia 13 (dia de Santo Antônio) com a lavagem da igreja e prossegue no dia 15 com o início da novena, é o traslado da imagem de Nossa Senhora do Rosário. Atrás dos reis do Rosário toda a comunidade se dirige ao Rio Fanado. 

A comitiva da festa, acompanhado dos grupos folclóricos ligados às tradições da festa, atravessa o rio em busca da imagem que se encontra do outro lado numa pedra. A imagem vem nos braços da comitiva e é entregue ao pároco, que a aguarda do lado de cá. Este profere uma prédica ao público e transfere a imagem ao povo que, daí em diante, a conduzirá à sua igreja.Praticamente todos os participantes fazem questão de carregá-la, nem que seja por alguns segundos. 
O antigo e pesado cofre, em poder do tesoureiro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, é trasladado para igreja no último dia da festa da mesma forma: carregado pelo povo, na cabeça. Na igreja, o cofre é aberto para se conferir o depósito e receber a contribuição dos irmãos. No dia 24 (Dia do Reinado), após a missa solene cantada em latim, rei e rainha do Rosário procedem farta distribuição de doces e quitandas ao público. 

Primeiramente, duas mesas improvisadas com cerca de 5 a 10 metros de comprimento são postas com doces de diversos tipos, uma na frente da casa do rei e outra na casa da rainha. Vários pratinhos de cerâmica (do artesanato local), guarnecidos por colherinhas de pau (idem), mais outro tanto de vasos da mesma cerâmica com cerca de 10 a 15 quilos de doce, cada um, aguardam o momento da "corrida ao doce". 

À entrada da comitiva na casa é dado o sinal e, os mais espertos ultrapassam a corda de isolamento e pegam o que podem. Num piscar de olhos, todo o material desaparece da mesa. É o único momento em que se vê atropelo. Depois disso inicia-se a distribuição dos doces ao público. Não há filas e também não há confusão ou briga. Muitos braços se erguem ao alto para receber um potinho com doces, mas a mão que o alcança é respeitada. Ninguém avança sobre quem o apanha. Todos recebem sua porção de doce e muitos voltam para receber mais. 
Só na casa da rainha da festa cerca de 3 mil quilos de doces foram feitos para distribuir .

A polícia nem é vista nas ruas. Não há necessidade. Não há brigas nem bêbados a perturbar o andamento da festa. Também não há o comércio ambulante que fareja festas. As ruas se mantêm limpas e ninguém vê o serviço de limpeza pública.

Meia hora depois da distribuição de doces, passamos nos locais e tudo estava limpo, como se nada tivesse acontecido. 

Como muitas outras cidades do Vale do Jequitinhonha, Minas Novas é uma cidade pobre economicamente, porém com muito a ensinar a comunidades mais privilegiadas, como Ouro Preto, por exemplo. Como os provedores da festa em Minas Minas Novas ressaltam em folheto explicativo sobre as tradições, foi em Ouro Preto que surgiu o reinado do Rosário pela iniciativa do negro forro Chico Rei. 

Entretanto, no município de Ouro Preto quase nada mais há sobre as antigas tradições. Perdeu-se quase tudo e o restante está sendo enterrado agora por obra e graça de alguns padres avessos à cultura.

Texto de um turista de Ouro Preto, extasiado com a beleza da Festa do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas.



Assista ao video da Festa do Rosário de 2016:

Festa do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas 2016! - YouTube


https://www.youtube.com/watch?v=TX7KQ1qal7E
7 de out de 2016 - Vídeo enviado por Rodrigo Ramos de Almeida
Festa do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas 2016!




Construído em pau-a-pique, em 1821, este sobradão se destaca entre o casario de um só pavimento da cidade

ORIGEM DA FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE MINAS NOVAS


ORIGEM


Houve, em certa época, para ser mais precisa, no século XVIII, a descoberta do ouro no córrego “TRIPUHY”, na localidade de Vila Rica, hoje, cidade de Ouro Preto. A notícia correu rápida e, o Rei de Portugal determinara que se explorasse esse minério num trabalho acelerado e para tanto, fora necessária a intensificação do tráfico de escravos. Portugal optou pelos povos da África. As pessoas eram aprisionados em navios negreiros e se destinavam ao Brasil.

Dentre as levas de africanos escravizados fora capturada a família de um certo Francisco. O Francisco, que recebeu o apelido de “Chico Rei”. 
Carlos Góes, em seu livro “História da Terra Mineira”, faz observações do porque o Chico era chamado de rei.

Em sua terra natal, esse cidadão desfrutava entre seus conterrâneos, já merecera o destaque como “rei” em festas lá realizadas. E aqui, uma vez escravo, fizera a promessa de que, quando alcançasse a sua alforria e de seus familiares, ele celebraria, com a mesma pompa e destaque, festa tal aquelas realizadas na distante e misteriosa África.

Imbuído nesta fé e, contando ainda com amigos e simpatizantes, não tardara a conseguir sua liberdade. Pondo-se a minerar por conta própria, encontrara avultada quantia em ouro, passando daquela condição de humilde escravo alforriado à situação de abastado milionário. Comprara a liberdade de sua esposa, do seu filho e da noiva deste, sem se falar em diversos sobrinhos e conterrâneos.

Por fim, soara a hora do cumprimento da promessa. Determinara o feitio dos cetros e das coroas e, desta forma, a população de Vila Rica assistia, atônita à exibição do “reinado” pela primeira vez em nossa pátria, o que se estendera por toda Minas Gerais, inclusive em Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas.

A Festa do Rosário em Minas Novas origina-se desde os primórdios do século XIX, porque se tem notícias de sua primeira celebração em 1810. 
Em 1840, os os homens pretos conseguiram o registro de um “Compromisso”, elaborado no Arcebispado da Bahia, com o título “IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS DE MINAS NOVAS”.
É essa Irmandade que promove em todos os anos a realização das festas de sua Padroeira.

A FESTA EM SEU FUNCIONAMENTO

A realização da eleição dos novos Juizes Maiores realiza-se em princípios de abril de cada ano.

Quinta-feira do angu - No mês de junho, numa quinta feira, que precede ao dia 13 deste mês, a Irmandade, os fiéis e o povo em geral, a partir de 4 horas da manhã, partem com destino ao rio Fanado a fim da busca de água para a “lavação” da igreja. A água é conduzida em “potes” e “latas” à cabeça dos participantes. Depois da lavação, é servido um angu a todos os participantes.

15 de Junho - Nesse dia, por volta das 12 horas à porta da igreja do Rosário, com repiques de sinos e espocar de foguetes, banda de música, além dos caixeiros e tamborileiros, tem início a celebração de uma cerimônia conhecida por “MEIO DIA”. 
À noite, novenas, leilões de prendas à porta da igreja, além dos bailes e batuques em diversos lugares da cidade.

15 a 23 de Junho - De 15 a 23 de Junho, celebram-se as novenas com leilões de prendas e os bailes de que já falamos, sendo que, no 23 de junho, por volta das 11 horas, um grupo de fiéis retira-se em direção à Pedra do Rosário a fim de apanhar e trasladar a imagem da Santíssima Virgem do Rosário que, recebida à porta da igreja pelo vigário da paróquia, pelos Irmãos do Rosário e grande massa de populares, é reverenciada em seus dignos merecimentos. Ato contínuo, é realizada outra cerimônia tal qual a do dia 15, sempre ao meio dia. À tarde, a armação das fogueiras e à noite a novena.

24 de Junho - Por volta das 04:00 horas da manhã, com a presença indispensável da banda de música, caixeiros e pipocar de foguetes, tem-se início à ALVORADA. 
Às 09:00 horas da manhã, em aparato todo especial, são os Reis conduzidos à igreja para assistirem a missa. Terminada esta, as majestades retornam a suas residências, onde é servido um almoço, regado a cachaça e com doces e sobremesas. Às 17:00 horas, inicia-se a procissão. Isto posto, a imagem é coroada no adro da igreja por um grupo de crianças. Os bailes e batuques continuam pela noite adentro.

25 de Junho - Em singular aparato, os casais de reis novos e velhos são conduzidos até a Igreja do Rosário. Ali, assistirão à coleta das esmolas anuais.

Com a chegada dos reis, a Irmandade se diligencia à casa do tesoureiro em busca do cofre, o qual é conduzido à cabeça por vários fiéis. Durante esse mesmo dia, a Irmandade continua sob permanente reunião até às 19:00 horas, quando o cofre é reconduzido à casa do mesmo tesoureiro, repetindo-se o aparato da manhã que se passou.

Com o retorno dos Irmãos, celebre-se a posse dos eleitos, que são novamente conduzidos às suas residências particulares realizam-se bailes onde se desponta uma série de folclores, tais como, “MANGANGA”, a “DANÇA DE QUATRO”, o “PAULISTA”, o “VILÃO” e “BEIRA MAR”, tudo isso para render homenagens à Virgem do Rosário, Mãe da Divina Graça e nossa protetora.

Fonte: http://festadorosariominasnovas.blogspot.com.br/

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