terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A CULPA É SUA, PROFESSOR!



O Brasil surgido após a tomada do poder pelo grupo que foi derrotado nas eleições já elegeu o maior culpado pela crise sem tamanho que toma o país: é você, professora, é você, professor...

Não, a culpa não é do senador Aécio Neves, que enquanto negociava propinas com bandidos agia no Congresso para sabotar a governanta eleita e depois armar um golpe para retirá-la do poder.

Não, a culpa não é do atual presidente da República, Michel Temer, que traiu sua companheira de chapa, juntou-se aos adversários de outrora, deu o golpe e aplica o programa derrotado nas urnas, retirando direitos dos trabalhadores e vendendo o Brasil aos estrangeiros.

A culpa da crise não é de Eduardo Cunha, aquele das contas na Suíça e das pautas bombas que tornaram o país ingovernável.


Nada disso. O Brasil do golpe, liderado por essa gente que retira dos mais pobres enquanto livra de pagar impostos as multinacionais do petróleo, elegeu o grande culpado de toda a crise que vivemos: o professor.

Em conluio com setores de um Judiciário cada vez mais insensível às causas do povo, persegue educadores sem direito de defesa. Na UFMG, reitores, ex-reitores e acadêmicos são conduzidos coercitivamente para depor sem que sequer houvessem sido convocados anteriormente. São intimados a depor como criminosos fossem, para falar sobre um processo do qual não tinham sequer conhecimento. Seus nomes são expostos por uma mídia sedenta de espetáculo sem que qualquer crime eventual tenha sido provado. Processos administrativos, comuns a qualquer escola em qualquer lugar do mundo, são tratados como obra de quadrilhas de bandidos.

A culpa é sua, professor. Em Santa Catarina, o total de verbas repassadas à UFSC num período de sete anos, R$ 500 milhões no total, é apresentado pela TV Globo como valor suspeito de desvio, o que sequer foi apurado ainda. Novamente, professores são levados por policiais para explicar sabe-se lá o que, têm seus nomes maculados e repetidos negativamente pela mídia de todo o país, por simples suspeitas de investigadores pouco conhecedores dos trâmites burocráticos que envolvem uma escola -- qualquer escola em qualquer lugar do mundo, é bom repetir.

Um desses educadores não suportou tamanha humilhação e matou-se. Aos 59 anos, mestre e doutor em Direito, Luiz Carlos Cancellier era reitor da UFSC quando foi preso, obrigado a ficar nu na cadeia, humilhado também em todo o país, associado a um suposto crime de desvio de dinheiro. A acusação foi feita por um antigo adversário político de Cancellier. O suposto desvio, inclusive, teria ocorrido em gestões anteriores à sua.

O Brasil do golpe prossegue na sua perseguição a professores atacando o maior de todos: Paulo Freire, o Patrono da Educação Brasileira. Foi educador, pedagogo e filósofo, considerado um dos mais notáveis do mundo. Doutor Honoris Causa em 29 universidades da Europa e América. Premiado pela Unesco. Virou nome de escola nos Estados Unidos.

Mas, para o Brasil do golpe, Paulo Freire foi um “doutrinador”. Membros do governo Temer chegaram a usar a rede pública em Brasília para alterar sua biografia na Wikipedia, a enciclopédia digital da internet. Paulo Freire, talvez o brasileiro mais traduzido e estudado no exterior, tornou-se mais um educador vítima do Brasil do golpe, o país que resolveu culpar os professores.

Na semana passada, a Gazeta do Povo, maior jornal do Paraná, criou um site para receber “denúncias” contra professores. O internauta entra no site e, após alguns cliques, entrega o educador que quiser à execração pública. Em São Paulo, o vereador Fernando Holiday, eleito com um discurso reacionário de apoio ao golpe, também elegeu os professores como culpados, percorrendo escolas para denunciar os trabalhadores.


O governo Temer e o PSDB querem acabar com a aposentadoria especial e a integralidade. O partido tucano em Minas Gerais, por sinal, já persegue o professor há tempos: acabou com a carreira, eliminando o quinquênio, e até a alimentação do profissional nas escolas chegou a ser proibida.

A reforma trabalhista atinge em cheio o trabalhador da educação. Estimula-se a contratação sem concurso, e até a terceirização. Na semana passada, uma universidade privada demitiu mais de mil professores para contrata-los sob o modelo trabalhista renovado -- em outras palavras, foram recontratados com muito menos direitos.

Não deixa de ser ironia que há quase cinco anos, nas famosas jornadas de junho de 2013, milhões de brasileiros foram às ruas com o discurso de estarem lutando por mais saúde e educação. Para muitos, aquele movimento prenunciou o golpe de 2016.


Pode ser, é polêmico. Não importa, por ora. O fato é que nunca atacou-se tanto a educação como se faz atualmente no Brasil do golpe. As verbas para o setor foram congeladas por 20 anos. Isso vai liquidar a educação pública no Brasil. Precisa ser revogado.

O povo precisa voltar às ruas. Motivos não faltam, como se sabe. Talvez o maior deles seja a defesa da professora e do professor brasileiro. A defesa do trabalhador da educação. Eles merecem.
Não, a culpa não é sua, professor!

Por Rogério Correia, deputado do PT 


Assessoria de Comunicação

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