sábado, 16 de dezembro de 2017

Polícia Federal persegue UFMG devido a projeto de Memorial da Democracia e Memórias da Ditadura

A Inquisição na cola da UFMG: o alvo é a professora Heloísa Starling e o "Projeto República". 

E que falta o Henfil faz...

POR AFONSO BORGES
Uma linha de raciocínio: a ditadura fez de tudo para esconder, a qualquer custo, e de todos, os verdadeiros acontecimentos durante este período. Este foi o grande legado de Golbery do Couto e Silva, seguido à risca pelas gerações seguintes. Máximas como a negação da tortura, da guerrilha, dos mortos e desaparecidos são o lugar-comum. Aí vem René Dreyfuss, descobre e prova a influência do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), uma organização político-militar transnacional que, aliada às elites orgânicas, promove o Golpe de 64. Paralelamente, Heloisa Starling mostra, em “Senhores das Gerais – Os Novos Inconfidentes e o Golpe de 64”, como este modelo se conjurou em Minas, livro lançado em 1986. E eles nunca perdoaram isso. Nunca. 
Continuando a linha de raciocínio: 2017, Lilia Scharcwz e Heloisa Starling lançam o belíssimo trabalho “Brasil: Uma Biografia”, um braço da pesquisa do Projeto República. Outras partes do corpo são o Memórias da Ditadura e o Memorial da Democracia. Projetos de assombrosa pesquisa sobre a vida recente brasileira do ponto de vista dos fatos reais. Nada de esconder a verdade da história. E que tem como foco principal o suporte ao ensino nas escolas. E isso é tudo que o projeto da ditadura militar não queria, não quis e fez de tudo para esconder. Ali estão as principais discussões e recomendações da Comissão Nacional da Verdade, as violências de Estado, a Justiça de transição, a perseguição aos movimentos negros, indígenas e LGBTs, enfim, a verdadeira história das atrocidades cometidas pela  ditadura brasileira. Um exemplo claro, que faz os militares arrepiarem os pelos dos fuzis são as “biografias da ditadura”, onde todos os atores, como Médici, Figueiredo e Romeu Tuma estão ali, sendo eles mesmos: artífices de uma trama contínua e repressora, que mergulhou o país em dos seus períodos mais terríveis.
De forma extraordinária, também, o capítulo dedicado às “biografias da resistência” revela não somente a forma com qual foram mortos, a maioria sob tortura, os militantes. Mostra também o que hoje fazem os sobreviventes, como os irmãos Edson e Janaína Teles que, com 4 e 5 anos, foram sequestrados logo após a prisão de seus pais, Maria Amélia Teles e César Augusto Teles, do PCdoB. Durante o período de detenção assistiram à mãe e ao pai serem vítimas de sistemáticas violações. Também presenciaram os dois sendo torturados pelo major do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, então comandante do DOI-Codi. Que negou até a sua condenação pela Justiça a existência da tortura. A tortura cruel, miserável, a tortura denunciada por Marcelo Rubens Paiva, recentemente, onde bebês eram torturados na frente dos pais para obrigado-los a falar. Inclusive, um destes bebês, semanas atrás, cometeu suicídio. 
Finalizando minha linha de raciocínio: o movimento jurídico-militar desenvolveu este viés “contábil” nas prestações de contas do Memorial da Anistia para tentar criminalizar estes que cometeram a heresia máxima do projeto de Golbery que foi contar a nossa verdadeira recente história. Heresia tal que levou, como Leonardo Boff, por descortinar a Teologia da Libertação, a professora Heloisa Starling e os seus colegas de cátedra à cadeira de Giordano Bruno. Mas como uma grande diferença: o inquisidor, no caso, não chega a lustrar as botas do Cardeal Ratzinger (no caso de Leonardo), que tornou-se o Papa Bento XVI, décadas depois.
E pior: quem montou esta estratégia de fragilizar a universidade pública com o viés jurídico-contábil-policial está anos-luz da genialidade de Couto e Silva. Os orgãos de Controle das universidades são seríssimos. Basta observar as rugas de preocupação do pessoal da FUNDEP, em Minas. As marcas da agressividade e humilhação da Polícia Federal aos nossos mais inteligentes e respeitáveis dirigentes da Universidade ficarão para sempre. A PF, ao nominar, grosseira e sarcasticamente, a operação de “esperança equilibrista” em equivocada referência à música de João Bosco e Aldir Blanc, cometeu um erro histórico. Um erro que, ao meu ver, com o tempo, será a piada interna que dará início à desconstrução da própria Instituição. 
E a prova maior desta minha maluca linha de raciocínio veio, por meio dos memes e os fakes news: sabem quem foi a única pessoa “atacada” nas redes? A professora Heloisa Murgel Starling, cuja foto vem sendo exibida nas redes como “pseudo-historiadora que usa a ‘Comissão da Verdade’ para caluniar as Forças Armadas”. 
Ai, meu Deus…. como Henfil faz falta… 

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