terça-feira, 17 de abril de 2018

Desemprego no Jequitinhonha é causado por mecanização no corte de cana

Número explica a eliminação de milhares de empregos temporários no interior de Minas Gerais

Foto: arquivoMecanização elimina empregos temporários no corte de cana
Mecanização das lavouras de cana faz trabalho de até 100 pessoas.
Uma colheitadeira, em média, faz o trabalho equivalente ao de até 100 pessoas na safra da cana-de-açúcar. Com essa conta é fácil entender como a mecanização das lavouras em usinas do interior de São Paulo eliminou milhares de empregos temporários e deixou famílias no interior de Minas desamparadas. É o caso de Edgar Batista da Silva, de 37 anos, morador de Vila São José, no município de Jenipapo de Minas. 

Pela primeira vez após mais de duas décadas, o lavrador Edgar Batista não conseguiu trabalho temporário e está desempregado(foto Solon Queiroz)
Pela primeira vez após mais de duas décadas, o lavrador Edgar Batista não conseguiu trabalho temporário e está desempregado(foto Solon Queiroz)


Durante 22 anos seguidos ele saiu para o serviço temporário nos canaviais. Hoje, está desempregado. “Sempre vivi do corte de cana, mas as usinas acabaram com a queima da cana. Mecanizaram tudo e não levam mais ninguém”, lamenta Edgar, mostrando várias carteiras de trabalho com o registro de contratos temporários nas usinas de açúcar e álcool, quase todas no interior de São Paulo, onde a mecanização avançou desde 2014. 

Este ano é o primeiro no qual ele não viajará para cortar cada, em mais de duas décadas. Com o dinheiro do esforço no corte de cana em São Paulo comprou moto e um lote, construiu casa e montou até um bar na Vila São José, hoje fechado devido à falta de dinheiro no lugarejo. “Aqui é assim: um dia você come direito, no outro, não, pois a dificuldade é demais”, afirma. “Pretendo ir para a colheita de café, mas também está difícil, porque ela também está sendo mecanizada”, comenta Edgar. O mesmo drama é enfrentado pelo irmão de Edgar, Archiles Batista, de 36, que viajou para o corte de cana durante nove anos seguidos e, agora, está desempregado. “Nem sei como vou viver. Na nossa região não tem emprego”. 

MIGRAÇÃO 

Sindiciato dos Trabalhadores Rurais de Araçuai ( foto Gazeta de Araçuai )
Sindiciato dos Trabalhadores Rurais de Araçuai ( foto Gazeta de Araçuai )


O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçuaí não tem números sobre o impacto da mecanização na migração de mão de obra da região para lavouras em outras cidades mineiras ou em São Paulo. Porém, segundo o diretor Warciso Jorge dos Santos, a estimativa é de que somente em Araçuaí e outras cinco cidades próximas 3 mil trabalhadores que saíam anualmente para o corte de cana agora têm de buscar trabalho nas lavouras de café ou outra opção de renda. 

Pablo Dias Campos, 23, não conseguiu mais ir para o corte de cana e agora faz bicos em Araçuaí
Pablo Dias Campos, 23, não conseguiu mais ir para o corte de cana e agora faz bicos em Araçuaí


Pablo Dias Campos, de 23, morador de Araçuaí, relata que no ano passado, pela primeira vez, viajou para o corte de cana em uma usina no interior do Rio de Janeiro. Gostou da experiência e do dinheiro que ganhou. Em dezembro, retornou a Araçuaí para rever a mulher e as duas filhas, uma de 6 e outra de 4 anos. Tinha esperança de trabalhar novamente neste ano. No entanto, está desempregado, sobrevivendo de bicos. “Está difícil conseguir emprego. A saída do pessoal para o corte de cana diminuiu. As usinas só levam agora aquelas mais experientes, com muitos anos de registro em carteira, o que eu não tenho”, lamenta Pablo. (LR)
Fonte: Luiz Ribeiro, da sucursal de Montes Claros do jornal Estado de Minas.
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